Joana Jesus, ou Peanuts para os amigos e seguidores, criou, em abril de 2020, a página com o mesmo nome, onde mostra aos jovens como poupar de forma criativa, e sem grandes sacrifícios.
Poupar em tempos de crise pode parecer uma loucura, mas foi precisamente no início da pandemia que Joana Jesus, natural de Faro, decidiu lançar o seu projecto onde fala de poupança criativa, sustentabilidade e partilha o seu dia a dia. Desde os 18 anos que trabalha para pagar os estudos e as suas viagens, e cedo percebeu que tinha de partilhar, com os que estavam à sua volta, a sua visão do mundo. A marketeer de vinte e cinco anos, chegou a ter cinco empregos ao mesmo tempo, trabalhava numa loja de dia, de noite trabalhava numa pizzaria ou fazia de babysitter, trabalhava num parque de festas de aniversário e era nadadora-salvadora nas suas folgas. Já pisou vinte e cinco países e é adepta das viagens sozinha, sendo um dos principais motores para as suas poupanças.
O Peanuts, que já passou do Instagram e do Facebook para as salas de aula e para os ecrãs de quem quer saber mais sobre esta temática, tem cinco temas principais, o "Outcheap Collections", onde troca os saldos das lojas, pela roupa em segunda mão; as "Viagens Lowcost", onde apresenta os truques para gastar o menos possível em cada viagem; o "PPP", (Promoções, Produtos e Preços), que apresenta as marcas mais em conta e promoções; o "Cria e Decora", para mostrar que todos os objetos podem ter uma segunda vida e ainda, "Surpresas Originais", onde partilha ideias de presentes divertidos, sempre feitos à mão.
Em entrevista ao Gerador, Joana Jesus, contou-nos como surgiu o Peanuts, como se pode poupar sendo jovem, deu-nos a sua opinião sobre qual o papel das marcas na sustentabilidade e explicou-nos o que é a economia circular. A jovem farense partilhou ainda com o Gerador quais são os seus novos projetos e como poupar, está à distância de um sonho.
Imagem da cortesia de Joana Jesus
Gerador (G.) – O que é ser Peanuts?
Joana Jesus (J.J.) – Ser Peanuts é ver a vida de uma forma prática, simples, com energia e não entrar em pânico quando não temos dinheiro na carteira. É também olhar para o dinheiro de forma leve, percebendo que este não é tudo na vida. É mostrar que a felicidade está nas coisas simples, e é isso que quero transmitir aos meus seguidores. A simplicidade, diversão e poupança pode estar no simples ato de usar meias diferentes, por exemplo.
(G.) – Porque decidiste criar o Peanuts?
(J.J.) – Já tinha sentido que queria criar algo meu e, apesar de ser daquelas pessoas que prefere as coisas feitas a perfeitas, sentia que criar o Peanuts me ia trazer alguma responsabilidade, como está a trazer. Em março de 2020 comecei a criar o logo, tudo sozinha e, no dia em que lancei só a imagem a dizer 'brevemente', senti que vinha algo bom e que ia puxar bastante por mim. Estava em casa, em lay-off, e ganhei um boost de coragem, senti que estava a começar uma fase nova da minha vida. Queria que as pessoas tivessem uma página cheia de energia no bolso, algo que fosse prático e onde tivessem vontade de ir. Hoje, muitas das coisas que publico, já aconteceram há algum tempo, mas sei que as devo partilhar, faz sentido mostrar o que já fiz, quando também eu comecei a dar os primeiros passos, para que as pessoas vejam como podem ser 'peanuts' no seu dia a dia. Não falo só de poupança, falo das minhas conquistas e do meu dia a dia, quero inspirar quem me segue.
(G.) – O teu projeto cresceu muito rápido e já dás palestras e worskshops em escolas. O que é que as pessoas mais te perguntam?
(J.J.) – Perguntam-me muito sobre roupa em segunda mão e o que têm de fazer para criar uma loja de roupa em segunda mão. Perguntam-me também como comecei e têm curiosidade em saber se comecei do zero. Pedem-me motivação para criar o seu próprio projeto e falam muito sobre a questão de gestão de tempo, porque veem que faço muita coisa ao mesmo tempo. Já agora, conto também que, para além dos workshops e palestras, o Peanuts abriu-me muitas portas, tantas que me despedi na semana passada e vou lançar-me sozinha. Saí de um trabalho em que estava efetiva, na área de marketing, e decidi arriscar sozinha.
(G.) – Uma das tuas poupanças foi viajar por três países com 180€. Podes contar-nos como o fizeste?
(J.J.) – Viajo muito com escalas. Essa viagem, por exemplo, foi Londres, Milão e Dublin. Vi que fazer escala era mais barato, então, basicamente, não dormi para conhecer Milão num dia. Outra das coisas que ajudam é o facto de não usar transportes públicos. Gosto de andar pelas ruas das cidades e perder-me. Em Milão, andava cansada, mas o aroma de estar num país novo dava-me energia. Também fujo de sítios em que tenha de pagar, gosto de museus grátis, tudo o que é grátis eu vou. Por vezes, perguntam-me o porquê de não ver certos pontos obrigatórios, eu respondo que prefiro ver outras coisas, é a minha forma de viajar.
(G.) – Viajar e conhecer outras formas de vida também te inspira a criar soluções mais sustentáveis?
(J.J.) – Sem dúvida. Quando viajamos percebemos que podemos arranjar soluções porque não temos a nossa casa ali ao lado. Sou muito prática e essa praticidade leva-me à sustentabilidade. Por exemplo, ando sempre com o meu conjunto de talheres, mas já cheguei a comer com uma tampa para não comprar talheres descartáveis. Viajo muito sozinha, por isso faço o que quero, ninguém me vai julgar. Quando viajo, a sustentabilidade está sempre comigo, mas comecei a olhar mais para a sustentabilidade com a poupança, percebi que o facto de poupar me leva a seguir um estilo de vida mais sustentável.
(G.) – Muitas vezes, para um jovem, poupar parece um desafio. Como se pode poupar de forma criativa?
(J.J.) – Tenho muito orgulho na nossa geração, os jovens são uns verdadeiros corajosos. As gerações anteriores eram mais de comprar, do imediato, hoje em dia acho que, cada vez mais, os jovens procurar reutilizar. Mas, para isso, precisam de criatividade, uma das coisas que tento sempre transmitir. Por isso, criei o Poupança Criativa, para meter o cérebro dos jovens a deitar fumo, para que consigam evitar ir ao shopping e começar a fazer as suas próprias criações.
Fotografia retirada do Instagram Peanuts
(G.) – Como enquadras a economia circular no Peanuts? E de que forma explicarias esse conceito?
(J.J.) – Primeiro, comecei a poupar e, depois, tornei-me sustentável, ou já era e não olhava dessa forma. Gosto de falar de sustentabilidade e poupança, porque muitos jovens não ligam à sustentabilidade mas ligam à poupança, e é por aí que começo a educar. Primeiro falo de poupança e eles naturalmente chegam à conclusão que podem ser mais sustentáveis com pequenas ações de poupança. Há imensas coisas que faço e explico no Peanuts sobre a economia circular, como a questão da roupa, transformar objetos, na temática 'Cria e decora', tento abrir horizontes para que tenham um clique. Muitos jovens vêm falar comigo porque os ajudo a ver as coisas de forma diferente.
(G.) – És licenciada em marketing e estás a tirar um mestrado em gestão de marketing. Qual é o papel das marcas, e do marketing, nesta economia circular?
(J.J.) –O meu sonho é trabalhar em marketing social. Gostava de entrar em cada marca e mostrar como podem ser mais responsáveis socialmente. Porque o marketing acaba por ser mal visto, mas tem um grande poder social. O Peanuts é isso, um projeto social que se baseia na comunidade, onde falo muito das marcas e dos valores que representam. Costumo dizer que, nós, consumidores, lideramos o mercado: se não comprarmos as coisas, elas não são produzidas. Temos de começar a comprar e a fazer aquilo em que acreditamos e que vai ao encontro dos nossos valores.
(G.) – Tens os “outcheaps”, onde dás dicas e incentivas os teus seguidores a comprar em segunda mão. Achas que o uso de roupa em segunda mão veio para ficar, ou é uma moda?
(J.J.) – Acho que veio para ficar, e sinal disso é o crescente número de plataformas. Temos de tirar a ideia de que precisamos das coisas como uma etiqueta. Não falo só da segunda mão, mas da personalização também, cada um tem de ter a sua essência. Os jovens estão cada vez mais desligados das lojas, claro que há sempre quem goste de ir a grandes lojas, mas acredito que a percentagem de compradores em segunda mão é cada vez mais. Existem cada vez mais opções e se olharmos para cada peça e percebermos que cada uma tem uma história, é espectacular.
(G.) – Tens alguma estratégia de poupança que costumes partilhar e possas partilhar também connosco?
(J.J.) – Sempre trabalhei por objetivos, é o meu maior motor de poupança. Quando estava a estudar, e também trabalhava, o meu maior objetivo era acabar a licenciatura. Atenção, eu falo de objetivos anuais, têm de ser sonhos que, com algum esforço, são concretizáveis no final de um ano. Isso eleva-nos como pessoas e faz-nos sentir bem.
(G.) – Existe alguma situação que te tenha marcado particularmente, desde que começaste o teu projeto?
(J.J.) – No início fiz algo engraçado. Para ter mais visibilidade, criei imagens em que associava os nomes à poupança, caracterizando-os. As pessoas identificaram-se, porque fui à lista de todos os nomes que me seguiam e fiz até aquele nome que só uma pessoa é que tinha. No entanto, uma pessoa que me seguia veio falar comigo, desiludida porque achava que não fazia sentido. Há pouco tempo voltou a seguir-me e falámos sobre isso. Gerir, no início de tudo, um seguidor desiludido, custou-me um pouco. Há pessoas que não se identificam logo comigo, mas depois ficam, ou voltam, porque gostam daquilo que faço.