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PITANGA:”O Gerador permite-me voar”. Assim nasceu “O Lince” na Central

A reabertura da Central Gerador assinalou-se no dia 23 de abril e apresentou várias novidades…

Texto de Patricia Silva

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A reabertura da Central Gerador assinalou-se no dia 23 de abril e apresentou várias novidades que abraçam a sustentabilidade e que marcam o espaço. Uma delas foi " O Lince", a obra da artista Pitanga, também conhecida por Joana Rodrigues, que representa o lince ibérico, considerado o felino mais ameaçado do mundo, criticamente em perigo pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Envolvido também numa fonte que permite refletir o equilíbrio diário e humano junto da energia, representada pelo sol, a artista pretende refletir a importância dos ecossistemas terrestres, criando assim um meio de consciencialização através da sua arte.

A artista portuguesa que participa regularmente em festivais de street-artpaint-jams, exposições individuais e coletivas volta-se também para as questões ambientais e é através do seu trabalho que aborda a importância do "dar e pensar de dentro para fora", trazendo consigo as emoções e os sentimentos, através da forma e da cor.

Joana esteve à conversa com o Gerador, onde abordou o processo criativo do mural da Central Gerador, os desafios e preocupações e ainda a importância do pensar a sustentabilidade, hoje, a partir do público e do artista.

Fotografia Gabriell Vieira, Time Out

Gerador (G.) - Atendendo à tua relação com o Gerador, comecemos pelo ponto de partida. Como é que nasce esta partilha de conhecimentos e de trabalho?

Joana Rodrigues (J.R.) - A minha relação com o Gerador começa por surgir através do Trampolim, há cerca de dois anos. Entraram em contacto comigo, e propuseram-me fazer parte do Trampolim, onde iam estar quatro ou cinco artistas a fazer ilustrações ao vivo. Foi, desta forma, que o primeiro contato Gerador aconteceu. Desde então, tenho vindo a fazer vários trabalhos convosco, sempre dentro da área da arte urbana e da ilustração. Entretanto, fiz dois workshops, um físico e outro online, e este já é também o segundo mural. É certo que gosto muito de trabalhar com vocês.

Gerador (G.) - Dedicas-te a explorar a Natureza, o universo ambiental e animal. O que te levou a escolher o lince ibério, relacionando-o com a importância e a reflexão perante as questões da sustentabilidade?

J.R.- Quando o Bica [Central Gerador] me falou que queria que fosse algo relacionado com o projeto Sobressalto, eu interiorizei-me com o projeto. Comecei por perceber em que consistia e, curiosamente, quando ele me falou nisto, ainda antes de ter lido o briefing e de saber o conceito do Sobressalto, eu pensei logo 'eu vou querer abordar um dos dezassete Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável'. Decidi que me queria basear nisso, até porque era algo que eu queria desenvolver e já tinha feito num trabalho no passado. Aliás, o meu último mural até foi sobre isso e eu gostei tanto que decidi que sempre que tiver oportunidade quero abordar um destes objetivos. Depois, quando li o briefing percebi que o Sobressalto também abordava este tema, o que foi perfeito. Eu queria fazer algo relacionado com a natureza, porque é o que eu gosto de fazer e desenhar e, então, acabei por escolher o objetivo número quinze, que é a Proteção da Terra. Questionei-me sobre o que poderia fazer sobre o tema: queria que fosse algo relacionado com Portugal; queria ter um animal - inicialmente, até pensei fazer um tigre, mas ele não é um animal característico de Portugal - queria que fosse um felino. Decidi investigar quais eram os animais. felinos, portugueses e foi então que me lembrei do lince ibérico. Peguei num livro do meu filho, o Gabriel, que tem imensos livros de animais, e depois de ver alguns animais, cheguei até ele. O processo criativo deste mural, foi exatamente assim.

A artista dedicou o mural ao seu filho e às gerações futuras.

 G. - O teu trabalho acabou por ser muito intimista também, até porque acabou por estar muito ligado ao seio familiar e, dessa forma, é quase poético dizer que é o marco de uma mudança...

J.R.- Sim, é engraçado, porque muitas das vezes, estou a ler uma história ao Gabriel, mas na realidade eu não estou propriamente atenta à história, mas sim às ilustrações. E, quando lhe ofereceram aquele livro, eu adorei aqueles animais porque são desenhados à mão, de linha fina, muito realista e, isso, é também interessante mesmo para eu perceber a forma dos animais sem ter que ir à Internet, ao Google, pesquisar desde a fase inicial. Através do livro comecei a tirar ideias e, depois disso, tive que fazer a pesquisa para perceber os traços mais característicos. Entretanto, percebi também que queria incluir a importância da água. Vemos uma fonte, do lado direito, com duas pedras que representa o equilíbrio que deveríamos e devemos ter no nosso dia-a-dia, na nossa vida, para conseguiremos viver mais equilibrados, não só a nível pessoal, mas também enquanto comunidade e planeta. Depois desse equilíbrio nasce uma fonte, que é a água que está voltada para nós, para a Natureza e que depois vai encontrar as folhas e o lince. Na parte superior, tem um sol, que simboliza a energia.

Quero realçar que também dedico este mural ao meu filho porque é ele quem vai ficar cá um dia que eu parta, e queria muito deixar esta marca também para todas as crianças, porque prevejo um mundo melhor. E no fundo, é também um mural dedicado a todos os filhos deste mundo. Gostava mesmo que tudo isto melhorasse.

G. - Ainda tendo por base esta relação com a importância ambiental e a sustentabilidade, tu transportaste também uma reflexão sobre o facto do lince ibérico ser um animal que se encontra em vias de extinção. Esta representação pretende também consciencializar esta realidade cada vez mais presente?

J.R.- Sim, essencialmente, era mais por isso. Para conseguir criar alguma consciencialização, até porque ele está por detrás das folhas, meio que escondido, como uma espécie de chamada de atenção 'eu estou quase a desaparecer. Cuidem de mim'. Esconde-se não só nesta representação, mas também ao nosso olhar. Quase que esquecido.

G. - Agora voltando-nos para as preocupações, numa ótica mais técnica ...

J.R.- Eu queria apenas utilizar materiais ecológicos ou que, de alguma forma, fossem sustentáveis. Optei então por não adquirir materiais novos. Não comprei mais metal nem mais tinta. Tentei recuperar tudo o que eu tinha em stock e reutilizar tudo. Parti da base 'eu vou tentar usar as cores que tenho em stock para não consumir mais material'. Assim, reutilizei todo o material que tinha, no entanto, as tintas de spray não são 100% ecológicas porque não são à base de água. Decidi usar também as tintas plásticas, estas sim, são à base de água; usei algumas canetas que são também dentro desta base, mais ecológicas e, claro, depois fiz a reciclagem de tudo aquilo que utilizei, mas eu tenho sempre essa preocupação, desde as fitas isoladoras às suportes das tintas plásticas que reutilizo de utensílios de cozinha, por exemplo, que podem ser utilizados em outras realidades. 

"O Lince", Central Gerador

G. - Atendendo às questões no qual o Gerador se tem debruçado, nomeadamente o projeto Sobressalto, quais foram para ti os maiores desafios, olhando todo este percurso que tens traçado ao seu lado?

J.R.- Posso te dizer que o Gerador é um ótimo cliente para se trabalhar! Em momento algum me foram impostas limitações, nem no processo criativo nem em qualquer outra fase. Existem algumas deadlines, como é evidente, mas engraçado é dizer que, após me indicarem o tema, quando eu questiono se tem algo em mente específico a resposta é sempre "não", ou seja, dão-me sempre muita liberdade. Deixam-me sempre fazer aquilo que eu quero e sinto e, isso, é tudo o que tu queres ouvir de um cliente. O que eu costumo dizer em relação ao Gerador é que me permite voar. Permite-me de uma forma muito livre e respeitadora. O Gerador respeita muito o artista, enquanto pessoa e enquanto profissional. Depois, também tem outra coisa que eu adoro que é: todas as infraestruturas e necessidades conseguem dar resposta. É uma associação muito versátil e muito aberta para aceitar todas as ideias. Nunca houve nada que eu tivesse sugerido que me tenha sido recusado. Tudo o que propus nunca me foi enviado de volta, como se estivesse errado ou fora do contexto. Portanto, não encontra limitações em nada. E neste projeto revivi toda essa liberdade novamente.

G. - Sentiste que o teu trabalho foi uma missão cumprida?

J.R.-  Sim, fiquei muito feliz com o resultado final. O respeito que o Gerador tem pelo trabalho do artista, seja em que área for é incrível. Tenho imensa gratidão, respeito e orgulho. Posso dizer que já me sinto parte da família.

G. - O que acontecerá de agora em diante? Qual é o próximo passo da PITANGA?

J.R. - Sobre os trabalhos futuros o que quero acrescentar é que sinto que, enquanto artista com alguma visibilidade que a nossa arte nos permite,  sinto que a minha mensagem sempre apontou muito para o coração. Sempre aconteceu muito de dentro para fora. Isto é, sempre exprimi as coisas que sentia, mas sempre pelo lado positivo, pelo lado do coração, do amor através da cor e da forma. Porém, noto que de há uns tempos para cá, cerca de um ou dois anos, que se está a mutar um bocadinho, ainda que continue a trabalhar muito em cima desta base do amor.

Eu sinto que os trabalhos que me chegam e as pessoas que me chegam são sempre muito enriquecedoras, quer a nível pessoal, quer a nível profissional e o curioso é que têm-me sempre chegado trabalhos relacionados à questão e à preocupação ambiental. Posso te dizer que há mais ou menos um ano que é isto que me chega. Estava a conversar há uns meses atrás com O Boticário e perguntaram-me se eu era vegetariana. Inicialmente, eu achei estranha a pergunta, no entanto, percebi posteriormente que O Boticário é uma marca que não testa em animais, os produtos são cada vez mais naturais, trabalham em cima da sustentabilidade e tudo mais. Então até as próprias marcas que me chegam, é muito curioso e muito bonito de ver, permitem-me trabalhar com clientes que têm também esta preocupação.

O  próximo trabalho que agora vou fazer vou fazer, um mural que transporta esta energia que se cria em torno do ser, ou melhor, do meu ser e da minha pessoa que transporta o mote de hábitos saudáveis, alimentação e desporto. E é incrível porque quando me chegam este tipo de temas que me dizem tanto, claramente, fazem-me sentir honrada por poder fazê-lo e, através da minha arte, poder sensibilizar as pessoas nesse sentido que, para mim, é uma preocupação gigante,. Uma parte da minha vida é também essa, a alimentação, o bem-estar e a ecologia. Poder fazer isso na arte tem sido muito bom! Cada vez que me chega um briefing eu já agradeço ao universo e à vida por me permitir isto e não ser só mais um trabalho. Transportam em si questões importantes a abordar e eu adoro isso.

Texto de Patrícia Silva
Fotografia do website PITANGA

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