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Quem se atreve a falar de cultura?

Dois anos depois temos novas legislativas. Após um governo inteiramente preenchido pelo período de pandemia,…

Opinião de Tiago Sigorelho

©David Cachopo

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Dois anos depois temos novas legislativas. Após um governo inteiramente preenchido pelo período de pandemia, somos convocados para participar num jogo que não desejávamos. Um jogo estranho, porque os titulares não mudaram.

Há cerca de 120 semanas atrás, a 6 de outubro de 2019, o nosso voto foi requisitado para decidir como repartir a Assembleia da República. Agora, depois de uma temporada em que apenas tentámos sobreviver, voltamos a ter de nos pronunciar. Mas, curiosamente, com os mesmos protagonistas.

O que se pode esperar de uma nova eleição, tão pouco tempo depois da anterior, com, na sua grande maioria, os líderes que encabeçaram as escolhas feitas em 2019? Assim de repente, não se antecipam grandes novidades. Mas, pronto, o que importa é o foco nas políticas e não nas pessoas, dirão. Vamos às políticas, então.

Faz hoje uma semana que a maratona intensiva de debates televisivos se iniciou. Até este momento tivemos direito a 15 debates com a participação de todos os líderes partidários, inclusive do Livre, repescado no último momento. Foram um pouco mais de 6 horas de emissão combinada, talvez o suficiente para percebermos as diferenças e prioridades entre os vários intervenientes.

Naturalmente, o tema mais presente é a saúde. Nada de novo aqui. Este é o assunto consistentemente mais relevante em todas as eleições. Mais ainda seria nestas, com uma sociedade impregnada de pandemia. Mas isso não alterou o perfil dos vários actores partidários. As filosofias são as mesmas de anteriormente.

O aumento dos salários, nomeadamente do salário mínimo nacional, é outro dos assuntos que volta a estar em destaque nos debates. Algo também habitual noutras eleições, embora, devo reconhecer, pareça um assunto mais concreto e transparente nas promessas desta vez, com várias estratégias e lógicas como opção para os eleitores.

A partir daqui, assiste-se a alguma dispersão nas matérias mais abordadas. Ora é a segurança social, ora é a justiça, ora é a economia ou o uso dos financiamentos europeus, salteados com tópicos que os próprios protagonistas arrastam para a mesa de discussão, em função das suas estéticas e das eventuais preferências dos seus votantes.

A educação, o problema estrutural da nação, é abordada fugazmente, com conceitos etéreos como a “sociedade do conhecimento”. E a cultura, a principal alavanca para a criatividade e a inovação, nunca foi mencionada. Nada. Por que têm os partidos medo de falar da cultura?

Existem outras prioridades nesta altura, gritam ao meu ouvido. Eu continuo convencido que uma comunidade mais justa, mais avançada, economicamente mais evoluída, depende, essencialmente, da profusão da educação e da cultura. A educação como base, a cultura como disruptor.

Mas a cultura não é um tema que interesse às pessoas, dizem-me impacientemente. Não é isso que referem os estudos. O Barómetro Gerador Qmetrics, a sondagem de opinião que analisa a percepção cultural por parte da população, é brutalmente consistente na relevância que os portugueses atribuem à cultura, reivindicando um papel cada vez mais essencial para esta dimensão.

A cultura é secundarizada até nos programas eleitorais. Olhando apenas para o que propõem os principais partidos, aqueles que necessariamente irão liderar o país, chegamos à conclusão que há muito pouco a referir sobre cultura.

O PS, nas 12 prioridades para os próximos 4 anos, não menciona a cultura. O PSD inicia a secção do seu programa eleitoral para a cultura com, literalmente, esta frase: “Entendemos a cultura na sua dimensão integradora, capaz de superar a divisão entre produtores e consumidores (...)”.

2022 seria uma oportunidade para falar menos da prisão perpétua e mais da pena de morte decretada à cultura.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Tiago Sigorelho-

Tiago Sigorelho é um inventor de ideias. Formado em comunicação empresarial, esteve muito ligado à gestão de marcas, tanto na Vodafone, onde começou a trabalhar aos 22 anos, como na PT, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca, com responsabilidades nas marcas nacionais e internacionais e nos estudos de mercado do grupo. Despediu-se em 2013 para criar o Gerador.
É fundador do Gerador e presidente da direção desde a sua criação. Nos últimos anos tem dedicado uma parte importante do seu tempo ao estreitamento das ligações entre cultura e educação, bem como ao desenvolvimento de sistemas de recolha de informação sistemática sobre cultura que permitam apoiar os artistas, agentes culturais e decisores políticos e empresariais.

Fotografia de David Cachopo
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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