fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Texto de Leitor

Carta do Leitor: A nova crise não pode fazer esquecer as antigas

A Carta do Leitor de hoje chega pelas mãos de Bernardo Marta, que nos fala sobre as crises no Governo.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Numa manhã, Portugal entrou num corrupio político quando se soube que estavam a decorrer buscas em ministérios e no Palácio de São Bento, residência oficial do Primeiro Ministro. Buscas no coração do Governo, uma situação ímpar que deixa qualquer democrata de sobreaviso. Não me cabe a mim tecer considerações acerca da veracidade das acusações feitas, não trago condenações próprias de quem cavalga uma lamentável situação.

Quero salientar um facto curioso, de três negócios na origem destas investigações dois estão relacionados com a transição energética, as conceções da exploração de lítio em Montalegre e em Boticas e o projeto da central de hidrogénio. Embora os acontecimentos tenham origem em projetos que visam preparar um futuro (mais ou menos verde, disso não tratarei aqui), o drama político em nada contribuirá para uma alternativa ecológica. Arrisco a dizer que enquanto nos ocupamos com esta preocupante investigação desviamos a atenção da crise ecológica, já normalizada por quem nela vive desde sempre.

Um putativo caso de corrupção no Governo é gravíssimo, mas não é mais grave nem sequer igualmente grave à crise ecológica que vivemos. Nem do que a crise habitacional que não nos permite viver condignamente. Nem do que a crise dos cuidados. Nem do que o machismo empedernido. Nem do que o racismo. Nem do que a queerfobia. E para quem não vive cá isto nada significa, ainda mais quando comparado com a hecatombe das guerras que assolam este mundo, a fome, a falta de água, as migrações forçadas… enfim, a falta de dignidade humana completamente evitável. O nosso assombroso histórico dita que andemos rodopiando neste grave escândalo e deixemos os maiores problemas para segundo plano (talvez seja otimismo excessivo achar que lhes caberá o segundo plano).

O hábito de estar permanentemente em várias crises gera uma normalização de cada uma delas. Esta adaptação, que é uma forma algo escapista de lidar com um mundo adverso, impede uma abordagem propositiva de um futuro diferente. Pior, coloca em causa a própria possibilidade desse futuro ao minar a nossa capacidade de sonhar. Os limites do futuro estão nas mentes que o imaginam, não por bastar acreditar muito para que algo se realize, mas pelo contrário. Basta não acreditar que o colapso ecológico (ou outro problema qualquer) é evitável que ele surgirá como uma promessa autocumprida, serão os braços caídos e a baixa moral que o efetivarão pela desistência.

O foco da atenção humana é limitado e facilmente direcionado para os mais recentes acontecimentos. O problema é que essas novidades não são necessariamente as mais preocupantes. O apetite voraz pela novidade misteriosamente sobrepõe-se à gravidade dos problemas. São imensas as urgências que se passam e que ignoramos constantemente, vamos  ignorá-las até ser demasiado tarde? Vamos continuar até que elas se agudizem de tal forma que seja impossível ignorá-las?

Preocupemo-nos com o que as investigações judiciais, é impossível não fazê-lo e é bom que não o façamos. Mas tenhamos consciência que este drama político em nada se compara a tantos problemas que infelizmente tornámos banais. Vamos voltar a ter mão no nosso rumo, vamos escolher o nosso futuro.

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o geral@gerador.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.

Texto de Bernardo Marta

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

3 Outubro 2024

Carta do Leitor: A esquizofrenia do Orçamento

12 Setembro 2024

Carta do Leitor: Por filósofos na sala de aula

29 Agosto 2024

Carta do Leitor: GranTurismo de esplanadas

22 Agosto 2024

Carta do Leitor: Prémios, diversidade e (in)visibilidade cultural

1 Agosto 2024

Carta do Leitor: Sintomas de uma imigração mal prevista

18 Julho 2024

Carta do Leitor: Admitir que não existem minorias a partir de um lugar de (semi)privilégio é uma veleidade e uma hipocrisia

11 Julho 2024

Carta do Leitor: Afinar a curiosidade na apressada multidão

3 Julho 2024

Carta do Leitor: Programação do Esquecimento

23 Maio 2024

Carta do Leitor: O que a Europa faz por mim

16 Maio 2024

Carta do Leitor: Hoje o elefante. Amanhã o rato

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

3 MARÇO 2025

Onde a mina rasga a montanha

Há sete anos, ao mesmo tempo que se tornava Património Agrícola Mundial, pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), o Barroso viu-se no epicentro da corrida europeia pelo lítio, considerado um metal precioso no movimento de descarbonização das sociedades contemporâneas. “Onde a mina rasga a montanha” é uma investigação em 3 partes dedicada à problemática da exploração de lítio em Covas do Barroso.

20 JANEIRO 2025

A letra L da comunidade LGBTQIAP+: os desafios da visibilidade lésbica em Portugal

Para as lésbicas em Portugal, a sua visibilidade é um ato de resistência e de normalização das suas identidades. Contudo, o significado da palavra “lésbica” mudou nos últimos anos e continua a transformar-se.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0