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A pandemia abriu o caminho de regresso ao Interior?

Carlota Marques, cronista convidada na sequência da reportagem «O despovoamento do Interior persiste, mas há jovens a querer inverter a tendência» fala-nos do potencial do Interior.

Fotografia da cortesia de Carlota Marques

A pandemia trouxe-nos uma nova realidade. Fez-nos pensar, refletir. Quantas vezes por dia de confinamento questionámos o sentido da vida?

Porque passamos grande parte dos nossos dias em trânsito, correrias, stress para depois regressarmos de imediato às nossas casas? De quanto em quanto tempo estamos com amigos e familiares? Fará sentido este tipo de vida, mais típica das grandes cidades? Será que estamos realmente a viver? Ou a sobreviver, na selva urbana? E a qualidade de vida? E o tempo com amigos e família? E o contacto com a natureza? Mil e uma questões! Será o Interior a resposta?

Para muitos foi, no início… O teletrabalho permitiu não só o regresso de tantos ao Interior, como também a vinda de «novas gentes». Era preferível trabalhar o dia todo, ainda que à frente do computador, mas com intervalos e finais de dia, em real contacto com natureza ou, pelo menos, com mais do que quatro metros quadrados gradeados de ar livre. Ou quem se lembra dos pobres patudos que nunca passearam tanto como no confinamento?

A pandemia fez-nos valorizar o tempo que passamos ao ar livre, a proximidade física com a família, entre outras coisas que tínhamos como garantido, mas que a falta de liberdade nos retirou.

Contudo, quase três anos depois, regressámos à tão falada normalidade. E com ela, o regresso dos jovens aos grandes centros urbanos do litoral. De novo, um Interior desertificado e o litoral sobrelotado.

Realmente o ser humano adapta-se e esquece-se com alguma facilidade. Alguma culpa do regresso à vida citadina do litoral, podemos atribui-la às empresas que não viram futuro no teletrabalho. Mas outras viram inúmeras vantagens e continuam a apostar neste método.

Então a quem atribuímos o resto da culpa? Estará assim provado que o Interior ainda não é apetecível para muitos jovens? Na minha opinião, não. Para mim, está provado que continuam a não conhecer o Interior e o seu potencial, ainda que muitos tenham crescido cá. Regressaram numa altura em que a palavra de ordem era ficar em casa. Felizmente, o meu caso foi diferente.

Regressei ao Interior em 2020 e, ao contrário de muitos, tive a oportunidade e a sorte de conhecer o que de melhor o Interior tem para oferecer. Daqui germinou a associação INterioriza-te. Talvez se mais jovens tivessem esta oportunidade, o Interior teria rejuvenescido e, consequentemente, ficado com mais potencial para crescer. Assim, existe ainda um grande caminho a percorrer, algo que fomos percebendo com o desenvolvimento do trabalho na associação. É preciso mais investimento, mais acessos, mais rede móvel e qualidade de Internet.

Se queremos atrair os jovens que continuam a escolher os grandes centros urbanos do litoral, temos de lhes oferecer condições competitivas. Continuamos a ter uma representatividade ínfima na Assembleia da República, tornando difícil a tomada de posição e a valorização da importância do investimento no Interior. As instituições decisoras têm de deixar de estar centralizadas em Lisboa e Porto. Com a associação, pretendemos fazer chegar esta mensagem ao poder central. Somos jovens que acreditamos no potencial do Interior e queremos fazer parte do seu crescimento, mas precisamos de políticas descentralizadoras que o permitam. Estamos disponíveis para, em conjunto, discutir e encontrar soluções.

Para além das fundamentais alterações necessárias às políticas, é urgente mudar mentalidades. É confrangedora a conotação negativa que é dada à palavra Interior. Falo por experiência própria, estive vários anos fora e, quando decidi que ia regressar, questionaram: «A sério? Vais ficar lá? Não se passa lá nada!», «Mas vais regressar porquê? Correu alguma coisa mal em Lisboa?» Não, vou regressar porque reconheço potencial nesta região e quero fazer parte do seu crescimento!

Há ainda outro mindset importante de referir: Portugal é pequeno! Não precisamos de um Altice Arena por distrito, precisamos de melhores acessos! Mais uma vez, investimento! Com a qualidade de vida possível de obter no Interior, uma ida ao grande centro urbano para usufruir das suas ofertas é possível. Não tenho de estar na cidade todos os dias para desfrutar da mesma. Aliás, falando uma vez mais da experiência própria, quando lá estive, ainda menos tempo tinha para usufruir da cultura disponível.

Em suma, a pandemia traduziu-se numa oportunidade de repovoamento do Interior, a população está mais aberta para ouvir as vantagens de um estilo de vida mais rural. É agora preciso trabalhar esta oportunidade e efetivar a mudança, trazendo de volta os jovens, essenciais para o crescimento do Interior. Portugal é pequeno, mas tem espaço para todos nós! Só temos de saber aproveitá-lo.

Texto de Carlota Marques

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