fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Texto de Leitor

Carta do Leitor: Demo-cra & cia limitada

Não é bem um barco. Talvez um navio. Daqueles do filme do qual todos ouvimos…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Não é bem um barco. Talvez um navio. Daqueles do filme do qual todos ouvimos falar. Com compartimentos distintos para cada carteira e estatuto, com almofadas e sabonetes de diferente fabrico. Não vá a coisa correr mal com a mistura. Do mais despojado ao cúmulo da quantidade de apetrechos. E agora que se adivinha o naufrágio queremos todos os igualíssimos botes salva-vidas.

Há instantes atrás sabíamos já do infindável número de zeros da acumulação de riqueza e do seu paralelo na escassez. A política do consumo desenfreado e estéril. A precarização dos vínculos de trabalho, num abuso claro de quem emprega. A inacreditável realidade dos lares, que enfrentamos como avestruzes de cabeça na areia. Trabalhadores agora da máxima importância que em muitos casos sobrevivem com salários quase simbólicos. Empresas pequenas e médias que só têm apoio lá pela altura de outro tipo de summit. Profissionais de saúde que têm uma salário muito inferior a todas as palmas que agora recebem. A habitação como um luxo. Cidades cheias de gente ofegante que se atropela para sobreviver ou sobressair. Pessoas que pagam demasiado por uma qualidade de vida que não têm, o que contrasta com a falta de investimento e planificação noutros territórios esquecidos. Lideranças que se desdobram em cargos e chefias reflectindo, na maioria dos casos, uma inoperância constrangedora. Uma democracia representativa resultante de uma abstenção demasiado alta para que o seja verdadeiramente. Grande parte da comunicação social cada vez mais refém também ela de lucro, sensacionalismo e falta de informação credível.

Falta de interesse que resulta, em grande medida, da falta de transparência dos sistemas, de uma educação cada vez mais padronizada, orientada para resultados, que apela pouco ao pensamento crítico, à reflexão. A cultura que não é levada a sério, bem como as ciências sociais que quase têm de pedir para ainda existirem. Falta de planificação estratégica que ajude a formar um modelo verdadeiramente sustentável. A saúde mental como um dos aspectos cronicamente mais descurados, estigmatizados e ignorados, agora comentada com honras semelhantes às da falta de cálcio nos ossos. Produção para uso frenético e descartável de tudo o que a muitos ainda continua a faltar. Desespero pelo imediato, o pronto-a-consumir. Frustração e impaciência.

Guerras e conflitos que se eternizam. Instituições com dinâmicas demasiado opacas que operam um espectáculo de marionetas há muito em cartaz. Solidariedade e empatia só em último recurso. Falta de voz para quem de facto vive um dia a dia que mais não é que a espera pelo fim do mês. Um mundo que apregoa exactamente o contrário do que teima em fazer e cuja incoerência e desresponsabilização dos seus representantes políticos é evidente. Comportamentos que adoptamos sem questionar, na lógica do come ou sê engolido. Política de circunstância, de reacção, modas e interesses.

A urgência da nossa capacidade de reflexão sobre o significado prático de democracia até aqui tem acabado, invariavelmente, encolhido entre ombros mais musculados numa multidão de temas. A sua subjacência, não raras vezes, é tida como pretexto para que se fale sempre à sua volta e jamais a tomemos, empenhadamente, como tema principal. O desafio de cumprir a democracia em meio de um capitalismo cada vez mais voraz, exige que esta seja não apenas base ou fundo mas também superfície, à tona.

É verdade que as premissas gregas há muito se instalaram somente em imaginário. Verdade também que os direitos e liberdades que lhe acrescentámos como conquistas são muitos e imperativos. Mas que não nos devem distrair nem ausentar dos desafios e desequilíbrios que ainda regem a forma como nos relacionamos e como agimos em sociedade.  Amarrados à ideia de que a relação de poderes terá sempre de acontecer nos moldes vigentes, reclamando justiça e igualdade em jeito de suspiro. Para onde, de facto, queremos ir quando sairmos de casa? Quem nos leva o leme e com que motivações e escolhas se guia? São precisas respostas. Para que não nos lamentemos repetidamente do que escolhemos ser, para que o descaso e a incompetência não sejam, interminavelmente, uma fatalidade.

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o geral@gerador.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.
Texto de Tatiana Azevedo

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

3 Outubro 2024

Carta do Leitor: A esquizofrenia do Orçamento

12 Setembro 2024

Carta do Leitor: Por filósofos na sala de aula

29 Agosto 2024

Carta do Leitor: GranTurismo de esplanadas

22 Agosto 2024

Carta do Leitor: Prémios, diversidade e (in)visibilidade cultural

1 Agosto 2024

Carta do Leitor: Sintomas de uma imigração mal prevista

18 Julho 2024

Carta do Leitor: Admitir que não existem minorias a partir de um lugar de (semi)privilégio é uma veleidade e uma hipocrisia

11 Julho 2024

Carta do Leitor: Afinar a curiosidade na apressada multidão

3 Julho 2024

Carta do Leitor: Programação do Esquecimento

23 Maio 2024

Carta do Leitor: O que a Europa faz por mim

16 Maio 2024

Carta do Leitor: Hoje o elefante. Amanhã o rato

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0