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Carta do Leitor: Hipocrisia ou a manutenção da doutrina!

A Carta do Leitor de hoje chega pelas mãos de João Pacheco Paulo, que reflete sobre as religiões.

O Papa esteve em Portugal por conta da doutrina, mas foi tratado pelo Estado português como um chefe de Estado e na sua visita foram investidos milhões do honorário público num evento religioso, por um Estado que se diz laico. Curiosidades à parte, com este fenómeno financeiro sobre o qual o povinho parece compactuar, o Papa veio ao que dizem trazer uma palavra de inclusão, mas decerto a batida do padre DJ deixou alguns "fiéis" desatentos e/ou surdos, e por isso a mensagem parece não ter passado ou interiorizada como podemos achar, seria o pretendido.

Eu, enquanto descrente, não ainda ateu e como pessoa gay e ativista, confesso que me faz confusão as pessoas LGBTQIA + acreditarem que têm espaço na ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) ou em qualquer outra igreja cristã. Os dogmas e as doutrinas passadas ao longo dos séculos não contemplam pessoas como nós, a menos que sejam silenciosas e não praticantes. Por isso, os incidentes ocorridos durante esta Jornada Mundial da Juventude com pessoas LGBTQIA+, aos olhos da ICAR fazem sentido, mas nas palavras de Francisco são lamentáveis que alegados "fiéis" voluntários se tenham comportado com tanto ódio e exclusão, em um momento que deveria ser de inclusão e reunião de todos como filhos de Deus.

Não foi o que se viu. Pessoas foram empurradas para fora do recinto porque transportavam as suas bandeiras, igrejas foram invadidas porque os fiéis aí presentes pertenciam a uma comunidade "maldita", e até o desrespeito pelo espaço esteve na ordem do dia. Nas redes sociais, de credencial ao peito, alguém defecava nos jardins da Av. da Liberdade e no final das festas o recinto parecia ser a versão moderna de um festival de música, seja com menos lixo porque os copos custam dinheiro, mas com lixo, seja no comportamento cristão católico no seu melhor.

De certo será como diz o etólogo Richard Dawkins as pessoas doutrinadas pela religião parecem satisfeitas em não compreender o sentido das coisas que lhes são passadas, talvez por isso mesmo se ouça tantas vezes dizer, em momentos de adversidade, que "é vontade de Deus", sem mesmo se saber que vontade é essa que deixa crianças ao abandono, ou a padecer de fome e maleitas num mundo que tem como as salvar, mas "por vontade de Deus" não o fazem.

Clóvis de Barros Filho, jornalista e filósofo brasileiro, tem uma frase magnífica para descrever o  que penso cada vez mais sobre as pessoas que se dizem seguir uma determinada religião, nomeadamente a ICAR: "os poderosos sempre apoiaram fortemente o uso da religião, porque é justamente a religião que faz com que os pobres se conformem com suas vidas miseráveis e não se rebelem contra os poderosos que os exploram". Tirando aqui a questão dos poderosos, o poder da doutrinação da igreja é tão poderosa que as pessoas aceitam pacificamente as suas vidinhas de escravos da era moderna, presos a horas de trabalho, deslocações miseráveis, habitações de papel, porque desde que haja alguém abaixo deles suas vidas tem sempre outro significado, com o texto "podíamos estar bem pior, mas com a graça de Deus temos...", e com a graça de quem os outros não tem? Este questionamento não existe na cegueira de quem está preso no jugo da igreja.

Dito isto, não surpreende os incidentes documentados em audiovisual durante as JMJ. Foi apenas mais do mesmo, encefalias de pessoas que batem no peito durante a oração, para baterem no outro depois da homilia e antes dela, quem sabe.

Ainda aguardo os resultados extraordinários do "income" obtido com o investimento de mais de 38 milhões de euros do nosso dinheiro.

Leandro Karnal, historiador brasileiro, diz sobre a religião: "Parece que Deus fala exatamente o que as pessoas querem ouvir....e o mesmo fazem os seus emissários, seus santos, suas entidades, seus orixás, seus gurus".

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Texto de João Pacheco Paulo

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