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Carta do Leitor: “Pães” – Não tenham pena dos pais solteiros

Sou mãe solteira. 

Mas não me sinto sozinha, pelo contrário, acreditem quando vos digo que o meu filho é a minha companhia preferida. 

Não tenham pena dos pais solteiros. Sintam antes compaixão e orgulhem-se deles porque se ser pai, numa vida a dois, tem os seus desafios, fazê-lo a solo tem mais ainda. Significa andar sempre a correr, abdicar da vida social e às vezes, da progressão na carreira também. 

A vida é passada entre a gestão da casa, do trabalho, da cria e da escrita nos transportes, nas horas de almoço ou à noite depois de lhe ler uma história e o aconchegar na cama. E está tudo bem com isso. 

Li recentemente testemunhos de alguns pais solteiros e apercebi-me de que há algo em comum em todos nós, pais solteiros. Ao mesmo tempo que falamos dos nossos dias e desafios, sentimos uma necessidade inconsciente de fazer sempre o parêntesis "mas não me estou a queixar, atenção" ou "e faço com todo o gosto e amor" ou "não trocava por nada deste mundo". Apercebi-me que eu própria o faço e pus-me a reflectir no porquê por detrás disto. A conclusão a que chego tem que ver com algo muito enraizado em nós e sobre o qual já tenho falado inúmeras vezes. É importante podermos falar do que sentimos sem nos sentirmos culpados por isso. É importante que se perceba que expressar sentimentos não faz de nós calimeros da vida. É importante que se tenha a sensibilidade de perceber que tudo o que venha do coração requer uma coragem e humildade imensas. É importante falarmos sobre as nossas vivências (na medida em que nos sintamos confortáveis com isso, claro, e no nosso tempo, sempre respeitando o nosso tempo) porque da partilha nasce o conhecimento e a informação. 

A minha gravidez, parto e pós-parto coincidiram com um período muito difícil e tumultuoso da minha vida, até agora, com 33 anos que não sendo muitos, também não são poucos. 

Estive na merda muito tempo. Tempo demais. E como quase todos fazemos quando estamos na merda, recolhi-me, fechei-me, isolei-me, tive pena de mim, muita. Senti raiva, frustração, mágoa, dor. Andei descrente, sem norte nem sul. Mas era mãe e tinha agora um ser que dependia de mim e me fez descobrir forças em reservas que nem sabia que tinha. 

Escrevo isto agora porque hoje dei por mim a pensar na quantidade de vezes que falamos dos nossos filhos quando nos tornamos pais, em como a nossa vida passa a ser pouco mais que nada sem eles, em como todas as conversas parecem ir dar a eles. Também vos acontece, tenho a certeza. E quando não falamos deles, temo-los no pensamento. Sempre. 

Vejo o meu filho como um mestre que a vida me deu e sei que aprendemos de igual para igual, ele comigo e eu com ele. Ainda não sei, confesso, se em igual medida ou se não aprenderei mais eu com ele até. 

Tenho, como sempre tive, sonhos, metas e objectivos por cumprir. Não sou apenas a mãe, no tanto que o ser encerra. Alguns deles, os sonhos, deixei cair por já não me servirem. A maternidade traz-nos uma clareza de espírito e uma redefinição da palavra prioridade incríveis. Outros consolidaram-se dentro de mim e hoje sei tão melhor o que quero, o que preciso, o que me move. E o que mereço. Aos poucos, vou fazendo acontecer, ao fim de quase 3 anos e muita superação, vou criando um equilíbrio entre a mãe e a mulher que sou e os projectos vão ganhando terreno aos medos, inseguranças, incertezas, dúvidas, vergonhas, desconforto de outrora. 

O maior crescimento advém das maiores provações. Quando estás na merda, isto soa a treta barata, mas não é. Não é mesmo. 

Não estou acabada. 

Acabei de começar. 

Gostava de não dizer tantas vezes ao meu filho "a mãe já brinca contigo", "espera só um bocadinho", "deixa só a mãe acabar isto", enquanto tem a mão pequenina estendida com uma tartaruga bebé de borracha e eu estou a lavar loiça, a estender roupa, a fazer sopa ou as camas de lavado. Mas sabem que mais? Digo-lhe ainda mais vezes que o amo muito, que é a minha vida e que é um menino incrível. E volta e meia, como ontem, enquanto lhe mudo a fralda, pega na minha mão e beija-a.

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Texto de Cláudia Cecílio

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