«Cash Rules Everything Around Me» – The Wu – Tang Clan
Sell Out. Conformista. Snob intelectual. Subsidiodependente. Artista do regime.
O arco da crítica junta os extremos como de costume. Como pode o jovem artista orientar a sua ética no que toca à procura do dinheiro? É um pecado artístico ganhá-lo, ou isso é hoje a maior virtude de um artista? Deve isso pesar na imagem que se tem do artista ou da sua obra? Como exigir independência? Como depender ou não depender de subsídios? Ser artista implica ser empresário e self-made? Ou apenas depender de estruturas organizadas que irão negociar uma comissão e distribuir pela fileira do setor o restante produto do trabalho artístico? Um músico – que tem evidentes necessidades de visibilidade personalizada no espaço público – é igual a um artista plástico? Pode haver culto de personalidade em um porque isso lhe torna o acesso à venda mais fácil e o outro não? E um bailarino? Um escritor?
Não será o único valor de orientação a qualidade intrínseca das obras?
Não serão os defeitos de personalidade e as fraquezas relacionadas com esse facto preexistentes à condição de se ser ou não artista, ou seja, na esfera da ética do indivíduo? O facto de se fazer ou não dinheiro é em si um valor ético? Não tem ele o mesmo poder de corromper ou potenciar um político, um empregado de balcão ou um artista? Um filósofo? Como se fosse impossível ao artista ganhar dinheiro e não sucumbir à reprodução ininterrupta da receita que lhe gerou esse dinheiro. Porque não pensar que com dinheiro lhe sobra mais tempo para aprofundar a arte e o ecossistema económico em que se movimenta para que possa dedicar-se cada vez mais àquilo para o que tem talento? Não é isso negar a força primária que o fez ser artista e paternalizar todo o processo?
Temos todo um ecossistema económico montado em cima do artista. Feiras, galerias, leilões, comissões, sponsorship, concertos, circuitos. A arte enquanto currency. Uma indústria de arte, «uma prática cultural de massas». Ela existe. É justo que o artista fique de fora?
«There is no production beyond exhibition.», Boris Groys
*Esta é uma crónica do Pedro Pires, inicialmente publicada na Revista Gerador de janeiro.
-Sobre o Pedro Pires-
É CCO/CEO da Solid Dogma. O que quer dizer que é criativo, mas que também tem outro tipo de responsabilidades enquanto não aparecem outras pessoas que façam melhor o serviço. É o autor da crónica «Constructo Constritor» na Revista Gerador.