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Entre Movimentos: Dançar sem idade

“Esta manhã não me sentia muito bem, mas ainda bem que decidi vir”, confidencia-me Phillipa, de setenta e dois anos, enquanto bebia água e se preparava para repetir o exercício. Junta-se novamente ao grupo e eu observo-a. Estou sentada num canto do estúdio e completamente absorvida pelo ritmo da percussão tocada ao vivo. Seguro o meu caderno e caneta, na esperança de encontrar inspiração para escrever sobre o poder da dança no combate à solidão, mas imediatamente surge um tópico que me parece igualmente relevante: a vitalidade do corpo que dança e os benefícios do movimento na terceira idade. 

Se através da janela vislumbro uma Londres cinzenta, dentro do estúdio há calor e luz. Os risos intercalam-se com as indicações da professora e os aplausos dos colegas. Neste grupo de dança para maiores de sessenta anos, a regra é apenas uma: mexer! Entre movimentos improvisados e uma pequena sequência, há muito a relembrar: passos, braços, postura, coordenação e interpretação. Dançar é tão natural que nos esquecemos de como nos faz mover o cérebro. De como nos potencia a concentração e a memorização. De como desperta a nossa consciência corporal, espacial e rítmica. Estimula-nos, dá-nos mais vida; e é precisamente por esta última razão que a dança na terceira idade pode desempenhar um importante papel num envelhecimento mais saudável.

A dança é cada vez mais recomendada por especialistas para combater os desafios que a velhice traz ao corpo e à mente, sobretudo nas questões de mobilidade e pensamento cognitivo. Segundo vários estudos científicos, a dança melhora a execução de tarefas do dia-a-dia, proporcionando uma maior destreza e força muscular. O idoso que pratica atividade física regular é, inevitavelmente, mais ativo e saudável, prevenindo a fadiga, o desgaste físico e pode aindacombater algumas doenças como a diabetes, osteoporose, problemas cardiovasculares, hipertensão ou até problemas nas articulações ósseas. Quando a atividade física é a dança, há ainda outros benefícios adicionais, sobretudo no combate à solidão e depressão. 

Terminada a aula, após os últimos alongamentos, ninguém parece querer ir embora. O movimento dá agora lugar à conversa. Há uma atmosfera de conexão. Para Miriam, de sessenta e oito anos, o sentido de comunidade é o que mais a motiva a fazer parte destas aulas. A partir de um interesse comum que é a dança, os participantes encontraram uma forma de construir novas relações interpessoais, combatendo a solidão que muitas vezes bate à porta. A interação social que as aulas possibilitam torna a dança ainda mais relevante, mesmo além do movimento. Neste campo, os estudos são bastante unânimes: a dança permite um bem-estar mental e emocional, um aumento da auto-estima e a capacidade de reduzir o stress e ansiedade.

Do ponto de vista cognitivo, dançar combate ainda os primeiros sinais de demência, auxiliando a memorização. Quando dançamos, estamos a estimular a nossa concentração e raciocínio lógico. Os aspetos mentalmente complexos da dança, como a coordenação dos movimentos e acompanhar o ritmo da música, são os principais responsáveis para a estimulação cerebral.

Não podemos parar o tempo no nosso corpo, mas podemos dar-lhe maior qualidade de vida. À medida que o grupo vai deixando a sala, a conversa vai ecoando pelos corredores. Vicky, a professora, acaba de arrumar o estúdio, enquanto partilha a razão pela qual tanto gosta de liderar estas sessões para maiores de sessenta anos: “Estas aulas são sobre reconhecer e mostrar que os idosos têm capacidade e técnica nos seus corpos, que querem melhorar a sua postura, querem sentir-se bem consigo próprios. E a dança permite que se sintam maravilhosos. Aqui, temos oportunidade de dançar em grupo, de pertencer ao grupo, de trabalharmos em conjunto”.

-Sobre Inês Carvalho-

Inês é bailarina e professora, gestora de comunicação cultural e escreve regularmente sobre o que mais gosta: dança. A mente inquieta levou-a a criar a agência de comunicação Diagonal Dance. O corpo inquieto levou-a a dividir o seu tempo entre Portugal e o Reino Unido.

Texto de Inês Carvalho
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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