fbpx
Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Manual de Sobrevivência: Plantar o que colhemos

Durante o último ano em que estive a ensaiar um espectáculo, ligámos aquecedores, ventoinhas, usámos…

Texto de Redação

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Durante o último ano em que estive a ensaiar um espectáculo, ligámos aquecedores, ventoinhas, usámos combustível, luz e água. Medimos o nosso impacto ambiental, e a única compensação possível seria devolver ao planeta 47 árvores.

Nunca tinha plantado uma árvore e, ao contrário de tudo o que esperava, aquele tornou-se um dos dias mais importantes do meu ano.

Dividimo-nos em grupos, junto com outros voluntários, e fiquei com pessoas que não conhecia. Juntos, cavámos buracos, apanhámos terrenos cheios de pedregulhos, ajudámo-nos, partilhámos instrumentos de trabalho, fomos buscar água para quem estava a ficar mais cansado, contámos histórias e ficámos muito tempo em silêncio, concentrados na tarefa. De cada vez que alguém plantava uma árvore, gritava-se o número alto, para que todos soubessem em quantas íamos.

Ao fim da manhã, sentámo-nos numa pedra a partilhar uma merenda e olhámos o horizonte em conjunto. Foi neste dia que conheci uma das pessoas mais inspiradoras. Foi ele quem pacientemente me explicou como cavar um buraco. Explicou-me que devia encontrar uma pequena clareira de terra junto a algumas rochas que iam ajudar a reter a água. Explicou-me a sentir as raízes com as mãos e a ver os veios na terra. De todas as vezes que passava por mim dizia: «Não tenhas pressa, não te preocupes. Quem devolve o planeta ao planeta nunca está a fazer mal. Tens o teu tempo, cada um tem o seu. E está tudo bem.»

Enquanto olhávamos para o horizonte, ele disse-nos: «Eu morava ali em baixo, do meu quarto conseguia ver a serra. Uma noite ardeu tudo, eu devia ter uns cinco ou seis anos, e nesse dia prometi que ia devolver a floresta à floresta. Aquela imagem nunca mais me saiu da cabeça. Depois a terra engoliu o meu filho, de maneira que há mais de vinte anos que venho aqui plantar árvores, é a única maneira de estar perto dos dois.»

Dei por mim a prometer o mesmo. Tirámos todos uma fotografia, e prometemos encontrar-nos dentro de cinquenta anos, naquele dia, naquele lugar, para vermos as árvores que tínhamos plantado. É que plantar árvores não é sobre ti, é sobre os próximos. É sobre um tempo que já não é o teu, mas que tens de deixar bem preparado. É sobre plantar o que colheste, sobre devolver o que recebes.

*Esta é uma crónica da Sara Barros Leitão, inicialmente publicada na Revista Gerador de janeiro.

-Sobre a Sara Barros Leitão-

É do Porto, e atualmente trabalha como atriz, criadora, encenadora, assistente de encenação e dramaturga. Feminista, ativista por todas as desigualdades, incoerente e a tentar ser melhor, revolucionária quanto baste, é uma artista difícil de domesticar. É a autora da crónica «Manual de Sobrevivência» na Revista Gerador.

Texto de Sara Barros Leitão
Fotografia de Matilde Cunha

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

11 Março 2024

Maternidades

28 Fevereiro 2024

Crise climática – votar não chega

25 Fevereiro 2024

Arquivos privados em Portugal: uma realidade negligenciada

21 Fevereiro 2024

Cristina Branco: da música por engomar

31 Janeiro 2024

Cultura e artes em 2024: as questões essenciais

18 Janeiro 2024

Disco Riscado: Caldo de números à moda nacional

17 Janeiro 2024

O resto é silêncio (revisitando Bernardo Sassetti)

10 Janeiro 2024

O country queer de Orville Peck

29 Dezembro 2023

Na terra dos sonhos mora um piano que afina com a voz de Jorge Palma

25 Dezembro 2023

Dos limites do humor

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Pensamento Crítico [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação à Língua Gestual Portuguesa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online ou presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Comunicação Digital: da estratégia à execução [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Práticas de Escrita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 ABRIL 2024

A Madrinha: a correspondente que “marchou” na retaguarda da guerra

Ao longo de 15 anos, a troca de cartas integrava uma estratégia muito clara: legitimar a guerra. Mais conhecidas por madrinhas, alimentaram um programa oficioso, que partiu de um conceito apropriado pelo Estado Novo: mulheres a integrar o esforço nacional ao se corresponderem com militares na frente de combate.

1 ABRIL 2024

Abuso de poder no ensino superior em Portugal

As práticas de assédio moral e sexual são uma realidade conhecida dos estudantes, investigadores, docentes e quadros técnicos do ensino superior. Nos próximos meses lançamos a investigação Abuso de Poder no Ensino Superior, um trabalho jornalístico onde procuramos compreender as múltiplas dimensões de um problema estrutural.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0