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Não sei se estás a perceber?

A ausência de conhecimento acumula todas as certezas debaixo da língua, prontas a serem disparadas. A soberba que não tolera o confronto com a sua própria ignorância não permite o crescimento. O outro está assim incapacitado perante todo o meu conhecimento, pensam eles lá do alto do seu ego. Encontramos à frente de ecrãs, pessoas recheadas de certezas acerca da sua sapiência. Não importa se estão a falar com um especialista, nem se apenas leram na diagonal um post sobre o assunto.

Não interessa, pois eles são os senhores da verdade, não sei se estás a perceber?

Esta deve ser a única questão a que se permitem. A dúvida se o outro conseguiu alcançar tal patamar de sabedoria. Talvez o outro seja alguém que já tenha estudado vários anos, lido centenas de livros sobre aquele tema, viajado e conhecido de perto essa realidade, mas nada disso interessa pois eles encontraram a resposta simples, única e objectiva…nas redes sociais. Não foram a nenhuma palestra, não reflectiram, nem tão pouco leram um ensaio sobre a questão, pois isso é para os pseudo-intelectuais que, esses sim, se acham superiores e arrogantes. Quando nada disto chega podem sempre alegar um estudo ou lançar umas percentagens. Irrefutável numa qualquer mesa de conversa perto de si.

As redes sociais e a tecnologia democratizaram novas formas de conhecimento. Magnífico. Mas isto deve funcionar como catalisador para mais aprendizagem através da literatura e da concretização da experiência. A ilusão do conhecimento sem estas premissas serve, ao invés, como inibidor. A falta de profundidade presente nestes meios devia expor a ignorância de todos nós, mas os dias cada vez mais acelerados e conversas tão breves acabam por funcionar na perfeição para todos os génios confiantes, não sei se estás a perceber?

Quanto menos sabemos, menos nos questionamos. A arte de interrogar não é tão fácil assim. É mais uma arte de mestres do que de discípulos, é preciso ter aprendido muitas coisas para saber perguntar o que não se sabe. Rousseau defendia que, “construimos dogmas que afunilam as conversas à volta das mesmas banalidades e desconfortáveis com outro tipo de visões simplesmente as rejeitamos, pois não aceitamos a humildade do questionamento.”

Se misturarmos os ingredientes: informação superficial, incapacidade de interrogação e solidificação de dogmas cozinhamos as vítimas perfeitas do populismo anti-científico.

Produzimos assim seres que, na ausência do contraditório e debate moderado, se transformam em votantes sectários. As pessoas que pior vivem na sociedade são as que pensam mais saber, por mais paradoxal que isto possa parecer, pois tal como o filósofo britânico Betrand Russell afirmava, “O maior problema do mundo é que os ignorantes e os fanáticos estão muito seguros de si mesmos e as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas”. E na sua bagagem cabem teorias falaciosas para todos os gostos: a comunicação social é toda de esquerda, o marxismo cultural está a destruir o ocidente, a ideologia de género é o cancro da sociedade ou o clássico argumento que o problema são os imigrantes.

Já nem há lugar para a compreensão de fundamentos, apenas o soundbyte que ao solidificar-se torna-se estatueta para ser exibida em cada comentário no facebook, numa conversa de whatsapp ou como piropo numa discussão acesa na via pública.

Estas pessoas que estão na posse de verdades absolutas construíram uma carapaça que forma o seu sistema de crenças. Ao não escutarem desencorajam qualquer tipo de debate saudável de ideias, o que faz com que, quem as rodeie nem ouse sequer tentar chegar a pontos comuns. Perdem assim o maior prazer que o intelecto pode oferecer. Descobrir novas perspectivas, dimensões diferentes e outras formas de pensar.

Eu continuo, como Sócrates, apenas com uma certeza: cada vez mais sei que nada sei.

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Texto de Francisco Mouta Rúbio

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