fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Texto de Leitor

O jovem sujeito à mediocridade

A Carta do Leitor de hoje chega pelas mãos de Guilherme Pio, que reflete sobre a vida dos jovens portugueses.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Já se encontra longe o tempo em que o jovem olhava para Portugal como o seu imóvel abrigo do futuro. Em alturas em que, por condição imutável da vida, se vê obrigado a traçar um caminho que lhe traga o mínimo de autossuficiência financeira, o jovem tem de averiguar entre sujeitar-se à possível e muito provável mediocridade ou sair do país. Uma infeliz realidade. 

Portugal tem muito que se preze. Uma casa acolhedora, seja pela segurança que proporciona aos seus habitantes, ou pela bondade dos mesmos. Um país de grande história, com traços culturais dificilmente igualáveis. Uma gastronomia invejada e umas condições climáticas que agradam a gregos e a troianos. Um local internacionalmente reconhecido como um dos melhores para se viver – assim testemunham os estrangeiros abastados, que usufruem de todas as regalias providenciadas por um país feito do turismo e do investimento externo. A opinião do nacional neste último tópico já varia. 

A verdade é que o português passa por momentos complicados: aumento do custo de vida, movido por uma completa estagnação salarial resultante da precariedade económica do nosso país. O problema é transversal a todas as faixas etárias, realce-se. Mas quando é a geração mais jovem o futuro de uma nação, parece má política não se fazerem esforços para cá mantê-la.

Porque, de facto, o convite à emigração é imediatamente elaborado nos períodos após a conclusão do ensino – e já eclode no pensamento do jovem no seu decorrer. O próprio, pertencente à suposta “geração mais qualificada de sempre”, vê-se perdido num mercado de trabalho de oportunidades reduzidas, muito distantes do desejável. Se eventualmente entrar, subjuga-se às remunerações baixíssimas que tendencialmente aufere, e que em nada fazem jus ao seu esforço individual. E estes salários, para o jovem, assustam: de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, jovens adultos recebiam em média, no ano passado, 843 euros líquidos mensais, valores que muito dificilmente suportam o aumento significativo e generalizado do custo de vida.

São estes salários que criam incontornáveis dependências financeiras: o jovem português é hoje um dos que, em média, mais tarde sai de casa dos pais – aos 30 anos, quatro depois da média europeia. Adia-se a sua autonomia, vontade que a ele é intrínseca, e promove-se o seu esgotamento psicológico, originado pela sensação de ser injustamente recompensado pelo seu trabalho. Longos e pesados anos de estudo, associados às enormes despesas intra e extra propina que da universidade derivam, e o resultado é tudo menos o adequado. A solução do jovem prende-se, em muitos casos, na emigração.

É assim que se assiste à fuga de talento que assola Portugal. O país sujeita o jovem à mediocridade, e, ao fazê-lo, acaba por provar do próprio veneno. Quer evolução, prosperidade e eternidade, mas não percebe que é a investir nos jovens que assegura o seu futuro. E é certo que eles gostariam de cá ficar – e muitos, presos por um amor não correspondido pela terra natal, ficam –, mas as motivações para sair são maiores. Um jovem já mal consegue imaginar o seu futuro aqui, quanto mais vivê-lo.

Este é o estado em que nos encontramos: uma exportação sem mãos a medir do nosso futuro, não combatida por aqueles que nos governam, num ato de menosprezo ao jovem, que trará consigo, a longo prazo, consequências incontornáveis. Se isto é um paradigma, talvez esteja na altura de invertê-lo. É paradoxal falar-se tantas vezes no desenvolvimento do país e, ao mesmo tempo, deixar-se fugir aqueles que mais o podem promover. 

Cabe ao jovem desprezar tal realidade, mostrando veementemente o seu desagrado – porventura através da redação. Faço-o agora, e espera-se que outros comecem, ou até continuem, a fazê-lo.

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o geral@gerador.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.

Texto de Guilherme Pio

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

18 Julho 2024

Carta do Leitor: Admitir que não existem minorias a partir de um lugar de (semi)privilégio é uma veleidade e uma hipocrisia

11 Julho 2024

Carta do Leitor: Afinar a curiosidade na apressada multidão

3 Julho 2024

Carta do Leitor: Programação do Esquecimento

23 Maio 2024

Carta do Leitor: O que a Europa faz por mim

16 Maio 2024

Carta do Leitor: Hoje o elefante. Amanhã o rato

18 Abril 2024

Carta do Leitor: Cidades Híbridas: onde podemos libertar as nossas cidades interiores!

28 Março 2024

Carta do Leitor: Conversa com a minha doença autoimune

7 Março 2024

Carta do Leitor: Guia-modelo de Competências de Liderança

3 Março 2024

Carta do leitor: O profano do sagrado quotidiano

22 Fevereiro 2024

Carta do Leitor: Os blogs empresariais vão sofrer o  efeito Milankovitch este ano

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e manutenção de Associações Culturais (online)

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura II – Redação de candidaturas [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 Julho 2024

A nuvem cinzenta dos crimes de ódio

Apesar do aumento das denúncias de crimes motivados por ódio, o número de acusações mantém-se baixo. A maioria dos casos são arquivados, mas a avaliação do contexto torna-se difícil face à dispersão de informação. A realidade dos crimes está envolta numa nuvem cinzenta. Nesta série escrutinamos o que está em causa no enquadramento jurídico dos crimes de ódio e quais os contextos que ajudam a explicar o aumento das queixas.

5 JUNHO 2024

Parlamento Europeu: extrema-direita cresce e os moderados estão a deixar-se contagiar

A extrema-direita está a crescer na Europa, e a sua influência já se faz sentir nas instituições democráticas. As previsões são unânimes: a representação destes partidos no Parlamento Europeu deve aumentar após as eleições de junho. Apesar de este não ser o órgão com maior peso na execução das políticas comunitárias, a alteração de forças poderá ter implicações na agenda, nomeadamente pela influência que a extrema-direita já exerce sobre a direita moderada.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0