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O jovem sujeito à mediocridade

A Carta do Leitor de hoje chega pelas mãos de Guilherme Pio, que reflete sobre a vida dos jovens portugueses.

Já se encontra longe o tempo em que o jovem olhava para Portugal como o seu imóvel abrigo do futuro. Em alturas em que, por condição imutável da vida, se vê obrigado a traçar um caminho que lhe traga o mínimo de autossuficiência financeira, o jovem tem de averiguar entre sujeitar-se à possível e muito provável mediocridade ou sair do país. Uma infeliz realidade. 

Portugal tem muito que se preze. Uma casa acolhedora, seja pela segurança que proporciona aos seus habitantes, ou pela bondade dos mesmos. Um país de grande história, com traços culturais dificilmente igualáveis. Uma gastronomia invejada e umas condições climáticas que agradam a gregos e a troianos. Um local internacionalmente reconhecido como um dos melhores para se viver – assim testemunham os estrangeiros abastados, que usufruem de todas as regalias providenciadas por um país feito do turismo e do investimento externo. A opinião do nacional neste último tópico já varia. 

A verdade é que o português passa por momentos complicados: aumento do custo de vida, movido por uma completa estagnação salarial resultante da precariedade económica do nosso país. O problema é transversal a todas as faixas etárias, realce-se. Mas quando é a geração mais jovem o futuro de uma nação, parece má política não se fazerem esforços para cá mantê-la.

Porque, de facto, o convite à emigração é imediatamente elaborado nos períodos após a conclusão do ensino – e já eclode no pensamento do jovem no seu decorrer. O próprio, pertencente à suposta “geração mais qualificada de sempre”, vê-se perdido num mercado de trabalho de oportunidades reduzidas, muito distantes do desejável. Se eventualmente entrar, subjuga-se às remunerações baixíssimas que tendencialmente aufere, e que em nada fazem jus ao seu esforço individual. E estes salários, para o jovem, assustam: de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, jovens adultos recebiam em média, no ano passado, 843 euros líquidos mensais, valores que muito dificilmente suportam o aumento significativo e generalizado do custo de vida.

São estes salários que criam incontornáveis dependências financeiras: o jovem português é hoje um dos que, em média, mais tarde sai de casa dos pais – aos 30 anos, quatro depois da média europeia. Adia-se a sua autonomia, vontade que a ele é intrínseca, e promove-se o seu esgotamento psicológico, originado pela sensação de ser injustamente recompensado pelo seu trabalho. Longos e pesados anos de estudo, associados às enormes despesas intra e extra propina que da universidade derivam, e o resultado é tudo menos o adequado. A solução do jovem prende-se, em muitos casos, na emigração.

É assim que se assiste à fuga de talento que assola Portugal. O país sujeita o jovem à mediocridade, e, ao fazê-lo, acaba por provar do próprio veneno. Quer evolução, prosperidade e eternidade, mas não percebe que é a investir nos jovens que assegura o seu futuro. E é certo que eles gostariam de cá ficar – e muitos, presos por um amor não correspondido pela terra natal, ficam –, mas as motivações para sair são maiores. Um jovem já mal consegue imaginar o seu futuro aqui, quanto mais vivê-lo.

Este é o estado em que nos encontramos: uma exportação sem mãos a medir do nosso futuro, não combatida por aqueles que nos governam, num ato de menosprezo ao jovem, que trará consigo, a longo prazo, consequências incontornáveis. Se isto é um paradigma, talvez esteja na altura de invertê-lo. É paradoxal falar-se tantas vezes no desenvolvimento do país e, ao mesmo tempo, deixar-se fugir aqueles que mais o podem promover. 

Cabe ao jovem desprezar tal realidade, mostrando veementemente o seu desagrado – porventura através da redação. Faço-o agora, e espera-se que outros comecem, ou até continuem, a fazê-lo.

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Texto de Guilherme Pio

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