Natural do Barreiro, Rui Santiago já participou na banda Warriors Against The System e é, igualmente, como guitarrista solo que continua no grupo rock Cruzados — banda que conseguiu chegar à semifinal do concurso Got Talent, da RTP1. A propósito, eles voltaram este ano. Sainthiago é o seu alter-ego musical a solo e, depois do tema Lay Down, lançado ainda em 2018, lançou, este ano, em todas as plataformas digitais, o tema Home. É, ainda, de sua vontade poder lançar um álbum e, para breve, há um vídeoclip na calha. Eis que chegou a hora de conhecermos os Sentidos da Música de Rui Santiago ou, como quem diz, Sainthiago.
Para se evocar um sentimento ou uma emoção através da música, o lado racional pode atrapalhar ou, pelo contrário, ajudar?
Não é fácil responder a esta questão.Creio que não é algo linear, mas diria que atrapalha no processo de criação de uma música.Para criarmos algo nosso, único e com sentimento, temos que sentir num todo e fugir da razão, porque uma obra de arte transmite um sentimento inexplicável, e só com sentimento a conseguimos criar.
Qual é ou quais são as músicas que fazem o teu corpo mexer?
Muitas, mas há logo uma que me vem à cabeça, pois estive no concerto deles na Aula Magna e senti toda a energia que a música transmitiu ao público e me fez levantar da cadeira: Unknown Mortal Orchestra - Multi-Love.
E aquelas que te conduzem, de imediato, a um estado de espírito específico?
Tenho tantas, mas diria que John Frusciante - Dying, me faz questionar a vida e os meus sonhos. Tash Sultana - Pink Moon, que me transmite calma numa fase inicial e, na parte final, uma explosão: não de raiva, mas de liberdade.
Achas que o facto da música ser invisível, não palpável, ajuda-a a ser mais intuitiva e, por conseguinte, ter uma outra relação com a nossa consciência?
Sem dúvida, acho que a música é uma arte e é universal por isso mesmo. Por não ser palpável é aberta à interpretação de cada um, tanto pode fazer-nos voar como ser o nosso melhor amigo nas horas mais difíceis.
Já te aconteceu pensares numa imagem, num ambiente específico ou espaços enquanto compões?
Sim, por vezes até é um ponto de partida para as minhas composições.
Geralmente o que me inspira mais são situações que ocorrem no dia-a-dia, e estas estão sempre associadas a sítios, pessoas, momentos e principalmente emoções.
Se pudesses desenhar e pintar a tua música, como seria e que cores teria?
Penso que iria ser um desenho cheio de imperfeições e erros, algo que representasse a vida. Iria ter diversas cores como a luz do amarelo, o verde da esperança ou a tranquilidade do azul. Ao mesmo tempo o preto da solidão e do isolamento. São este tipo de emoções que canalizo quando passo os meus sentimentos para melodias e para o papel.
Como é que imaginarias o sabor da música mais especial para ti? Doce, amargo, salgado como o mar, agridoce?
Diria que salgado como o mar. O mar é algo puro, cheio de vida e inocente à primeira vista, mas se nos aventurarmos demasiado na viagem e o desafiarmos podemos correr o risco de nunca vais voltar. Costumo dizer que ouvir/fazer música pode ser uma benção ou uma maldição, dependendo da forma como conseguimos "controlar" a nossa mente. A viagem que fazemos ao meu interior requer coragem, e às vezes pode ser perigoso se não estivermos preparados para lidar com o que encontramos dentro de nós, esta música especial faz-me viajar por caminhos totalmente desconhecidos e perigosos.
Pensa no cheiro mais importante para ti, aquele que ficou na tua memória. Que música lhe associarias?
Não consigo pensar no cheiro mais importante, mas consigo pensar no cheiro da chuva e da noite. Associo este cheiros a momentos de descoberta e reconciliação comigo mesmo.
Sempre na companhia do Matt Corby - Runaway.
Achas que a música pode ser um bom veículo para fixar e guardar memórias?
Sim!Acho que todos nós associamos músicas a determinados momentos das nossas vidas, o que faz com que sejamos capazes de as associar a memórias. As músicas vivem dentro das nossas memórias., para sempre.