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Os Sentidos da Música com “Um Corpo Estranho”

Depois de Pulso, lançado em 2016, eis que a dupla de Setúbal ― Pedro Franco…

Texto de Andreia Monteiro

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Depois de Pulso, lançado em 2016, eis que a dupla de Setúbal ― Pedro Franco e João Mota ― regressa com Homem Delírio, editado pela Malafamado Records com o apoio da Fundação GDA. Este trata-se de um trabalho bastante introspectivo, com uma ambiência bastante forte, que caracteriza uma viragem sonora e de universo em relação aos discos anteriores. Universo, esse, influenciado pela poética do surrealismo e pelo teatro do absurdo. Aliás, essa ambiência é notória no cenário bastante visceral do vídeo do tema de lançamento, “O estrangeiro”, e no vídeo de "Sangue Irmão". Editado a 22 de Março, Homem Delírio tem ,como artistas convidados, a colaboração de Sérgio Mendes, Celina da Piedade e Paulo Cavaco. A estreia ao vivo será dia 11 de Maio, no Teatro São João em Palmela, com um espectáculo que alia o teatro físico e a dança à música do disco. Vamos conhecer os sentidos da música destes homens em delírio? Bora!

Para se evocar um sentimento ou uma emoção através da música, o lado racional pode atrapalhar ou, pelo contrário, ajudar?

Neste sentido somos bastante pessoanos. É uma relação simbiótica. Temos de sentir e depois filtrar o que sentimos através das ferramentas da razão, da língua e dar à emoção o formato do que queremos dizer. Acho que são dois lados que se entreajudam, ou até, que fazem parte do mesmo organismo do processo de escrever canções.

Qual é ou quais são as músicas que fazem o teu corpo mexer?

Somos um pouco diferentes nisso. Para o Pedro, dá-lhe um bom tema de rock com uma boa roupagem dos anos noventa e é vê-lo a abanar os ossos. Crescemos ambos com essa linguagem, mas acho que lhe toca mais a ele do que a mim. O corpo toma-me as rédeas com as sonoridades cubanas ou com um belo chorinho brasileiro.

E aquelas que te conduzem a um estado de espírito imediato?

Acho que toda a música nos conduz para um determinado estado de espírito. É a força que ela tem em nós. Seja para mais negativo ou positivo. Falta-nos reconhecer mais isso. Em Portugal a formação musical, ou mesmo só o contacto das crianças com a música ainda é uma coisa primitiva. Falta investir mais neste sentido.Mas, não fugindo à questão, recorremos a diferentes fontes, consoante o estado de espírito que queremos alimentar. Acredito que a música tem um efeito directo nas nossas emoções, e felizmente, existe um alcance interminável de espectros musicais para cada emoção humana.

Achas que o facto da música ser invisível, não palpável, ajuda-a a ser mais intuitiva e, por conseguinte, ter uma outra relação com a nossa consciência?

Olha, excelente pergunta. Aliás, todas elas.

Acredito totalmente nisso. Todo o trabalho que existe em torno da indústria musical vai no sentido de a tornar física, de trazê-la para um estado mais consciente, comum a todos, por vezes, pelas piores razões. Para chegar às pessoas ela tem de ser comercializada e mastigada e, aí, é onde perdemos todos. É sabido que em certos estilos existem, inclusive, fórmulas para seduzir o nosso inconsciente de forma imediata, um pouco como acontece com o fast food, o que, infelizmente, vai no sentido contrário ao papel que a música deve ter na nossa vida. No fundo a música deve ser um pouco como a electricidade, sendo que, em parte, já o é. Deve ser uma força que acende luzes no subconsciente, algo que nos ajuda a estar em contacto com o nosso lado emocional, que nos ajuda a evoluir, a perceber quem somos, subjectivamente, e a tirar partido disso.

Já te aconteceu pensares numa imagem, num ambiente específico ou espaços enquanto compões?

Sim, sempre. O processo de composição começa aí. Carregamos pedaços do mundo connosco e inventamos outros tantos. Por vezes os espaços, ou as imagens, recriados numa canção são uma mistura dos dois, realidade e mitologia pessoal. A modo de exemplo, neste último disco há uma canção que foi roubada às paisagens da vila de Ronda, na Andaluzia, onde se diz que Ernest Hemingway costumava percorrer as ruas e os miradouros locais. Com essa imagem em mente surgiu o tema “Sangue Irmão”. Ou mesmo o tema “Homem Delírio” que nasce duma extrapolação do universo de Cervantes, e do seu triste herói, Dom Quixote. Neste caso, algo que vem da mitologia pessoal, do que inventei sobre o que li.

Se pudesses desenhar e pintar a tua música, como seria e que cores teria?

Neste disco tivemos o privilégio de ter alguém a fazê-lo por nós. A ilustração da Rita Melo trouxe à luz o que queríamos criar com este disco. Sem querer, criámos uma personagem, este Homem Delírio, que nos vai falando ao longo das canções. O olhar da ilustração reflecte exactamente o que está latente nas canções. E o facto de estar em tons tão vivos, aumenta essa intensidade.

Se fossemos nós, seria uma coisa muito abstracta, com muitos pretos e vermelhos, ia ser aborrecido.

Como é que imaginarias o sabor da música mais especial para ti? Doce, amargo, salgado como o mar, agridoce?

Engraçado falares nisso. Pessoalmente, penso que as músicas que compomos têm sempre algum aroma específico. O mar está muito presente, o cheiro do mar, a costa, os sons dos portos, as gaivotas, deve ser por termos crescido em Setúbal. Mas também a chuva, o cheiro das vinhas, o adocicado do frio do inverno.Mas nunca tinha pensado ao que saberia. Talvez um pouco de todos, em momentos diferentes. Tentamos fazer o possível para estar à altura da cultura mediterrânica em termos de sabor.

Pensa no cheiro mais importante para ti, aquele que ficou na tua memória. Que música lhe associarias?

O do mar. É algo que não dispenso. Nunca vivi longe do mar. Não sei se saberia fazê-lo. A música que lhe associo é a “Canção de Embalar” do Zeca Afonso, são duas coisas que me remetem à infância e nunca as consegui dissociar.

Achas que a música pode ser um bom veículo para fixar e guardar memórias?

Tenho a certeza disso. E para criar tantas outras, também. Acontece-me revisitar o que compomos, e descobrir ou lembrar-me de coisas que não existiam na altura em que o tema foi feito. É raro, por norma não oiço os nossos discos. Tento-me distanciar deles e focar nos que ainda estão por compor. Mas por vezes acontece e é sempre como se fosse a primeira vez. Chego até a não me reconhecer de todo nas canções, o que é engraçado, porque crio uma relação completamente diferente com elas. Estou neste momento a pensar nisso, nas memórias que estão presas às canções. A culpa é toda vossa e desta excelente entrevista. Muito obrigado por cada uma das questões. Foi um prazer enorme conversar convosco. Abraço.

Entrevista por Ana Isabel Fernandes
Fotografia de Rui David

Se queres ler mais Sentidos da Música, clica aqui.

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