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Outra Parte: Do dia internacional da mulher

Na Outra Parte deste mês, Raquel Pedro, a propósito do Dia Internacional da Mulher, exprime o seu desejo de que se fale mais de temas como igualdade salarial e direitos reprodutivos.

Texto de Redação

Ilustração da Raquel Pedro

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A 8 de Março “celebramos” todos os anos, o dia internacional da mulher – vemos comemorações de todo o tipo, mais ou menos interessantes para o movimento feminista, ofensivas ou não para quem luta contra o machismo e a misogenia instituídos nas nossas sociedades patriarcais. Em 2023 não estive, pela primeira vez nos últimos sete anos, na habitual marcha onde se pode participar quase independentemente da cidade onde se está. Este ano, o evento de relançamento das Mulheres do meu país aconteceu em simultâneo com a manifestação de Lisboa e foi nele que marquei presença. Uma das mais monumentais obras da antropologia, da história e etnografia das mulheres portuguesas do século XX não se encontra facilmente, as edições que existem são poucas e raras. Apesar dos três mil exemplares que a Caminho re-editou em 2003, muitos acabaram por ser destruídos. Finalmente e, graças à parceria entre A Bela e o Monstro Edições e O Público, poderemos voltar a adquirir esta peça, que sairá em fascículos mensais, tal qual foi a primeira edição. Na Biblioteca Nacional conversou-se sobre esta ação, que é também ela feminista. A disponibilização desta peça é fundamental para a acessibilidade e estudo no conhecimento nela contido. A mulher do povo protagoniza este livro preenchido de importantes histórias de vida que nos faz pensar sobre a condição da mulher naquela altura, surpreendentemente parecida à de hoje, contendo assim uma atualidade impressionante. Uma leitura que desde já recomendo.

Voltemos às comemorações ofensivas, claro não entendidas assim a partir de todas as perspectivas nem mesmo em todos os contextos: por exemplo, quando chegamos ao supermercado e nos oferecem uma flor (qualquer coisa feminina, geralmente arrancada à força, com o caule cortado…). Um gesto não misto: exclusivo para mulheres. Absolutamente inútil no contexto da empresa, visto que neste dia deveríamos refletir sobre as práticas misóginas e machistas que estão entre nós ao invés de reforçar estereótipos de feminilidade e fragilidade. A urgência além do óbvio (que seja como no início dos movimentos de mulheres, inclusive sindicais, salário igual por trabalho igual) prende-se com os direitos reprodutivos (o apoio às mães, seja financeiramente seja de tempo para com as crianças) e até com a receptividade a receber ações de formação e rodas de conversa sobre desconstrução dos estereótipos associados à mulher (de que é naturalmente mais madura emocionalmente, guerreira por conseguir acumular e vencer uma grande quantidade de trabalho etc.) de coletivos que a este tema se dediquem. É uma luta que se vê também na reação às denúncias de assédio ou violação, que muitas vezes são descredibilizadas por “não ser assim tão grave” ou “não haver provas suficientes”.

O cansaço de muitos assuntos é mútuo e o assustador é quando percebemos o quanto é essencial mantermos vivos estes assuntos. Todos podemos contribuir para uma causa, e episódios de machismo, sexismo e misoginia ocorrem diariamente nas nossas vidas. Essas micro-agressões (ou macro) podem e devem ser por nós detectadas e combatidas. A forma como somos preconceituosos com determinadas mulheres ou como nos posicionamos em determinadas quezílias, às vezes valendo-nos de uma velha e problemática máxima “entre marido e mulher não se mete a colher”. Está na altura de ultrapassarmos isso e nos fazermos valer da importância de resolver os problemas estruturais das nossas sociedades.

Finalmente, posso contar-vos de um projeto que tenho em mãos e que pretende combater a invisibilidade feminina. A companhia de teatro e associação cultural onde trabalho – UMCOLETIVO – encerrou o evento de relançamento de As mulheres no meu país na Biblioteca Nacional, com uma performance de Cátia Terrinca e Elizabeth Pinard. Parte do projeto no qual participo da pesquisa de texto – Mil e Uma Noites – outrora até As mulheres do meu país – que recolhe património literário de tradição oral ou escrita de mulheres que marcaram o Séc. XX português. Afinal, nos livros de história e até português figuram pouquíssimas mulheres e no nosso dia-a-dia falamos pouco delas. São inviabilizadas e às vezes até parece que não existem e a desculpa é sempre “a falta de qualidade”. Assim, procurar e encontrar mais histórias contadas por elas, mais biografias e trazê-las também para a nossa boca, sem ser apenas para dizer como “são fofoqueiras”. Não pretendo com isto cair numa pauta liberal, sabendo-a porém, cultural – reconhecemos até a afetividade como critério insuperável da nossa pesquisa que não procura ser sociológica, mas sim artística.

Deixo com este texto o apelo de trazermos para nossos meios as pautas do movimento feminista nacional e internacional bem como de outros projetos que prezem pelos direitos das mulheres. A educação, investigação e informação são essenciais para melhor debatermos um tema tão premente nos nossos meios.

-Sobre a Raquel Pedro-

Raquel nasceu e cresceu numa aldeia, onde firmou a sua relação com a natureza e os animais. Tocou percussão numa banda filarmónica e passou por inúmeras atividades extra-curriculares. Aos 15 anos começou a estudar artes na Escola Artística António Arroio, onde se especializou em Realização Plástica do Espetáculo e aos 21 concluiu a Licenciatura em Estudos Comparatistas - Arte e Literatura Comparada, oferecida pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Atualmente desenvolve trabalhos de ilustração e aprofunda a investigação e escrita de artigos nas áreas da literatura e arte, a partir de uma perspetiva feminista e pós-colonial.

Texto de Raquel Pedro
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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