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Palhetas Perdidas: Club Farense

Fundado em 1863, o Club Farense conta já com um longo percurso ligado à actividade…

Texto de Redação

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Fundado em 1863, o Club Farense conta já com um longo percurso ligado à actividade cultural da cidade de Faro e do Algarve, tendo atravessado uma diversidade de épocas históricas até aos dias de hoje. Declarada instituição de utilidade pública em 1983, esta associação cultural está sediada no Solar dos Pantojas, edifício classificado cuja construção data de finais do século XVII e princípios do século XVIII.

A direcção actual, encabeçada por Augusto Miranda, tem estado à frente do clube desde 2013, ano marcado pelas celebrações do 150.º aniversário da associação (que, de certa forma, deu uma nova dinâmica ao clube), desde então tentando aproveitar o ímpeto criado nessa altura. Natural de Marco de Canaveses, Augusto formou-se em Engenharia Química na Universidade de Coimbra (cuja Tuna Académica integrou) e vive em Faro há 42 anos. Tendo dedicado parte significativa da sua carreira ao ensino, esteve 18 anos na direcção do Liceu de Faro e desde sempre foi mantendo viva a sua ligação pessoal com a cultura, promovendo e estando ligado a diversas actividades culturais que decorriam tanto na escola como fora desta, como é o caso da criação e direcção da Orquestra do Algarve, da iniciativa Allgarve (2010 e 2011), entre muitas outras. Em 1998, foi convidado para integrar a câmara municipal, tendo sido vice-presidente e vereador da cultura, e repetindo o mandato entre 2005 e 2009.

Já reformado, assumiu a direcção do Club Farense em 2013, pelo que desde então a associação tem vindo a revelar uma maior abertura na sua programação. “As celebrações dos 150 anos levaram a uma intensificação da actividade cultural por parte do clube. Ao assumir a direcção, quisemos continuar com as actividades que tinham sido iniciadas nesse ano e alargar as áreas de intervenção”, explica. No ano de 2018, realizaram-se no total 78 eventos no clube (sendo que a actividade é interrompida durante os meses de Verão devido ao calor), numa programação que procura combinar a diversidade de áreas artísticas com a regularidade da oferta.

 Um dos casos de sucesso foi a aposta no jazz, que conta desde o início com a colaboração do contrabaixista José (“Zé”) Eduardo, residente em Faro há mais de duas décadas, na programação e organização dos concertos. “A minha colaboração com eles começou através do convite por parte da direcção para que eu fizesse uns concertos com convidados, nomeadamente duos” explica o contrabaixista. Nas rubricas “Zé Eduardo convida…” e “A glass of jazz” foram passando no clube nomes como João Paulo Esteves da Silva, Rita Maria, Afonso Pais, entre muitos outros. Ao longo do tempo, o jazz foi dessa forma conquistando um espaço e regularidade próprios no clube, tanto através dos concertos, que decorrem no 2.º e 4.º domingo de cada mês, como na jam session que acontece na 3.ª quinta-feira de cada mês, orientada também pelo contrabaixista, e que reúne no clube músicos de todo o Algarve. Os concertos são todos gravados profissionalmente pelo próprio através do seu material para gravação, sendo que chegou a ser lançado um disco dedicado à primeira edição da iniciativa (que reuniu os concertos realizados em 2017), em formato de edição de autor.

Para Zé Eduardo, que desenvolveu parte significativa da sua actividade em Lisboa e em Barcelona, tendo tido um papel de destaque enquanto músico e impulsionador deste estilo nas respectivas cidades (foi o fundador da Escola de Jazz Luiz Villas-Boas e director pedagógico do Taller de Musics, e colaborou com diversos músicos de renome internacional tais como Art Farmer e Harold Land), a evolução do jazz no panorama nacional é francamente positiva, e isso tem um reflexo positivo na receptividade do público ao estilo em Faro: “Hoje em dia, o jazz já tem outra reputação, já não tem o rótulo de música de entretenimento que tinha há 20 ou 30 anos”, explica, defendendo o papel que o ensino superior de jazz teve nessa evolução e destacando o facto de hoje em dia muitos músicos da região serem licenciados em jazz, o que constitui uma mudança significativa em relação ao que era o panorama na década de 90, quando chegou a Faro.

Para Augusto Miranda, o papel “educador” do clube para com o público é também algo que deve ser priorizado, nas diferentes áreas. Entre sessões de poesia temática, um mês dedicado à música no feminino, passando por audições comentadas e palestras, sem esquecer o formato da jam session de jazz que envolve Zé Eduardo como orientador, é transversal às diferentes propostas a intenção de formar públicos, e de ter nos diferentes momentos um público mais fidelizado e “educado”. “Hoje em dia, a oferta cultural em Faro é muito interessante, e sentimos que há público para as diferentes coisas que vão acontecendo na cidade, muitas vezes em simultâneo”, defende.

Tanto para presidente da direcção como para Zé Eduardo, muito embora por vezes alguns eventos e festas sejam destinados ao público mais jovem, a faixa etária que frequenta o clube acaba por ser, em média, mais alta. Se Augusto lembra o papel das universidades na vida cultural da cidade, o músico diferencia Faro das outras realidades encontradas no Algarve, onde o turismo é proeminente, ao passo que ali se encontra maioritariamente público local: “Quando cá venho tocar, reconheço a maior parte das caras que vejo na audiência, para não dizer todas”, refere.

Para ajudar à captação de novos públicos será, por certo, importante, a eventual possibilidade de abrir nos meses de Verão – actualmente a ausência de um sistema de ar condicionado afecta demasiado um espaço que pela sua construção e orientação aquece bastante nos meses mais quentes. “É um processo que estamos a tentar resolver, por temos interesse em receber público nessa altura do ano em particular, mas que não é fácil, dado este ser um edifício classificado e, portanto, de difícil intervenção”, explica Augusto.

No que toca à sua vocação cultural, a continuação do trabalho que tem sido desenvolvido na formação de públicos e o alargamento do espectro de actividades culturais (entre várias coisas, procura-se uma maior inclusão da música clássica) são prioridades de uma associação que quer assumir o peso da responsabilidade que tem enquanto agente cultural da cidade. É o presidente da direcção que assume essa missão: “Queremos assumir um certo grau de responsabilidade na diversificação da oferta cultural de Faro, promovendo os artistas da zona, não deixando de ter espaço na programação para outro tipo de projectos mais consagrados e que enriqueçam essa mesma programação.”

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

Texto de João Espadinha
Fotografias da cortesia do Club Farense

Se queres ler mais crónicas do Palhetas Perdidas, clica aqui.

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