O prazer sexual às vezes é incerto e misterioso. Nem sempre aquilo que parece óbvio para muit@s é real para tod@s. Oiço muitas mulheres dizerem que não «sentem nada» ou que «fazer sexo não é assim tão bom quanto isso». As razões que estão por detrás da falta de prazer são inúmeras, mas uma das causas comuns surge da necessidade de controlo e contenção, quer como consequência de uma educação familiar castradora e negativa face à sexualidade, quer pelas características intrínsecas da personalidade de cada um. Simplificando a questão: se ouvirmos durante a nossa infância e adolescência que o sexo é uma coisa condenável, que se deve ter cuidado com os homens, que eles só querem ter sexo ou que se vai ficar grávida sem querer, convenhamos que será difícil olhar para a sexualidade como algo aprazível.
Por outro lado, aqueles que estão demasiado atentos à sua performance sexual, monitorizando cada ação ou sensação, como se fossem espectadores, acabam por se tornar incapazes de usufruir da situação e de se libertarem até ao ponto do não retorno. Deixar fluir é importante, mas, para tal, é imprescindível descobrir como se pode ter prazer. E esse caminho é importante que se faça sozinho, através de informação fiável sobre sexualidade e através da autoestimulação. É necessário ser-se criativo e ultrapassar as reservas e estereótipos inerentes a esta procura. Nem sempre a forma mais tradicional de uma mulher se estimular resulta. E, apesar do clitóris ter uma responsabilidade fundamental no prazer, é preciso encontrar um meio de o estimular com sabedoria. É preciso tocar, acariciar, pressionar. Tentar e voltar a tentar. Uma, duas ou quarenta vezes. Nunca desistir. E quando alguém descobre o prazer pela primeira vez, estamos perante um acontecimento único e extraordinário. Afortunada sou eu, que sou escolhida para ajudar mulheres e homens a chegarem lá. Felizarda, porque em tempos estranhos como aqueles em que vivemos, ainda vou sendo agraciada por descobertas destas que me fazem acreditar que tudo é possível e que a criatividade não tem limites.
*Esta é uma crónica da Marta Crawford, inicialmente publicada na Revista Gerador de outubro.
-Sobre a Marta Crawford-
É psicóloga, sexóloga e terapeuta familiar. Apresentou programas televisivos como o AB Sexo e 100Tabus. Escreveu crónicas e publicou os livros: Sexo sem Tabus, Viver o Sexo com Prazer e Diário sexual e conjugal de um casal. Criou o MUSEX — Museu Pedagógico do Sexo — e é autora da crónica «Preliminares» na Revista Gerador.