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Tudo será ainda instagramável? O museu por reinventar

Enquanto as obras instagramáveis das exposições acumulam pó nas galerias fechadas, os museus parecem condenados…

Texto de Leitor

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Enquanto as obras instagramáveis das exposições acumulam pó nas galerias fechadas, os museus parecem condenados a manter-se numa corrida acrítica de difusão de conteúdos online, mantendo a sua presença virtual com partilhas mais ou menos inócuas de publicações prévias dos seus visitantes, posts de obras avulso sem qualquer contextualização, visitas orientadas para o vazio, ou sugestões de atividades esboçadas por quem nunca concebeu propostas pedagógicas neste formato. A quem serve este museu virtualizado?

O silenciamento da mediação e pedagogia nesta urgência de partilha de conteúdos online é avassalador. A passagem ao campo do virtual neste momento de crise não pode ser apenas o derramar apressado de conteúdos para outro formato, a réplica distorcida do que acontecia já no espaço físico do museu. A ausência de mediação no processo de cuidar dos conteúdos traduz-se numa efetiva redução da sua potência. Enquanto dispositivos de mediação, que lugar têm os serviços educativos dos museus num mundo transposto para o virtual?

Educadores e mediadores são mais necessários do que nunca, na contextualização das obras e atividades no campo instantâneo e excessivo do virtual. Chamados a orientar visitas, conceber e implementar programas para escolas e grupos de todas as idades, estes profissionais são desde sempre a face visível dos museus, e estão no centro do seu trabalho, produzindo pensamento crítico e inovação pedagógica em ponte com a comunidade. Numa era de suspensão da experiência física de co-presença, o campo virtual poderá constituir-se ainda como possibilidade de prolongamento dessa experiência já iniciada com a comunidade. Mas deverá também abrir espaços para a necessária redefinição do papel do museu no pós-pandemia. Neste sentido, o papel dos educadores e mediadores torna-se central, convocando a sua experiência de criação de significado e de engajamento com o público para oferecer mais às comunidades do que visitas a galerias virtuais desumanizadas.

Depois de décadas investidas na sua constante reinvenção para permanecerem relevantes, os museus que anunciavam como prioridades a educação e diversificação dos seus públicos, mas dispensaram na primeira hora desta crise os profissionais dos seus serviços educativos, parecem revelar que a sua função principal seria afinal colecionar objetos para criar valor, com pouco interesse na sociedade em geral, e ainda menos na comunidade em que se inserem. Os museus que insistam nessa via arriscam tornar-se meros repositórios de artefactos, distantes da produção de conhecimento e de pensamento crítico. Ao museu exigem-se hoje mudanças mais profundas, que passam também pela capacidade de reinventar a sua relação com a comunidade.

Teremos que encontrar novas maneiras de comunicar mantendo a distância física, pensando desde uma perspectiva empoderadora e geradora de capacidade de agenciamento e emancipação para os públicos. É necessário pensar este momento de crise também a partir do território da construção do político, do processo de tornar cada um agente de poder, assumindo por pensamento próprio a defesa e a necessidade do bem comum, da comunidade. Este processo assenta na promoção da cidadania pelo exercício da capacidade crítica na leitura de um mundo de crescente complexidade, e que sofreu com esta pandemia um abalo que o poderá ter deslocado do seu eixo. A arteducação e a mediação cultural, levantando questões sociais e políticas que se inscrevem neste território, e que se desenvolvem também elas a partir da deslocação e do desvio, abrem uma profundidade de sentidos multiplicadora dos olhares sobre o mundo, assumindo-se como lugar de ethos, de criação de comunidade e de produção de consciência.

O próprio tecido da realidade foi profundamente transformado, e todos teremos de descobrir como navegar a paisagem pós-COVID. As lições que podemos tirar desta pandemia até ao momento são de retraimento, de desconfiança, de desaparecimento da nossa sensação de invulnerabilidade, ao mesmo tempo que vemos testemunhos do abraçar do improviso, da permissão do ócio, da valorização da comunidade, da partilha. O que fazer de tudo isto?

No momento em que é anunciado pela Ministra da Cultura que se prepara a reabertura dos museus, urge olhar criticamente o que foi feito durante o encerramento, e preparar o que vem.

Como repensar então o museu e a sua relação com a sociedade, num quadro mais abrangente da redefinição do papel da cultura, reconhecida como fundamental por toda a comunidade durante esta pandemia? Não se pretende um regresso ao paradigma meramente informativo, e o paradigma do museu como experiência talvez não tenha mais lugar. Enquanto espaço simultaneamente de visualização e de visibilidade, pelo registo e partilha de selfies com obras instagramáveis, o museu será profundamente afetado pelas mudanças fundamentais do nosso estilo de vida, que certamente se prolongarão além da pandemia. Será difícil imaginar um regresso à prática globalizada e massificada da viagem pré-pandémica, o que terá um impacto significativo nos museus até agora focados na atração de massas de turistas. É o momento de recentrar o foco principal do museu nos públicos locais e nacionais, na comunidade em que se insere.

No novo normal que começamos apenas a esboçar, esperamos um museu que potencie a experiência ética da cidadania, que cuide a sua pertença à comunidade que serve, a partir do local da sua inscrição.

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o geral@gerador.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.
Texto de Patrícia do Vale

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