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Maternidades

Cátia Sousa fala-nos sobre a experiência desafiadora e transformadora de ser mãe, partilhando as suas reflexões sobre a maternidade.

Texto de Redação

Helena Lopes via Unsplash

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Ser mãe. 

O que é isso de ser mãe. O que é isso do desejo de ser mãe. O que é que o desejo de ser mãe diz sobre a minha relação com a minha mãe. 

Na verdade eu não tenho resposta para nenhuma destas questões. Deixo-as aqui em tom de provocação, para pensarmos nelas quando nos cansarmos de ver reels no instagram

Sempre foi meu desejo ser mãe. Em adolescente, e com o desconhecimento e imaturidade próprios da idade, achava que, sendo lésbica, não iria conseguir ser mãe. Essa perspectiva magoava-me mais do que pensar nas dificuldades que viria a viver enquanto mulher lésbica. Em abono da verdade, as dificuldades foram sendo ultrapassadas, com sorte e muito trabalho terapêutico, e a vontade de ser mãe permaneceu. Curiosamente, e agora que penso, nunca levei esta coisa da vontade de ser mãe à terapia. Devia. 

Hoje diz que sou mãe. Tenho um filho, é verdade. Um puto mesmo giro. Mais giro do que os outros putos giros, como dizem todas as mães. Aparentemente saudável e feliz. E que sorri sempre muito quando adormece em cima da minha mama direita. 

Não sou mãe teórica da maternidade. Não sei nada e não li quase nada sobre nada. O que sei, e que é pouquíssimo, tenho aprendido todos os dias com ele, e geralmente no dia seguinte, ou já não funciona, ou já não se aplica. 

Não sou perfeita, nem tenciono ser. Balizo-me por metas de sobrevivência: primeiro um dia, depois dois, depois uma semana, depois um mês, depois muitos. E tem funcionado. Esse é o tipo de mãe que sou — a “mãe tem funcionado”. 

Nada nos prepara para isto. Os dias transformaram-se numa repetição infinita de cuidados. As noções de existência mudam. O tempo tem outro ritmo. Dia e noite fundem-se. Minto: o dia é difícil e a noite é terrível. Nunca desejei tanto a luz do sol. 

40 semanas e um dia de gestação não chegaram para nos conhecermos. Eu não sei quem ele é e ele só conhece a “mãe-entranhas”. Somos uma espécie de recorte um do outro. Ele tem coisas minhas e eu tenho coisas dele, enquanto aprendemos, cada um à sua maneira, a sermos seres individuais.

Ser mãe para mim tem sido muito isto: aprender a existir agora que ele existe e sobreviver à deceção constante de não estar ao nível do idealizado. No tempo restante, ser mãe é ter uma mama direita que é almofada, cama, alimento, carinho, conforto, som, cheiro, calor.

*Esta crónica foi escrita com um bebé ao colo.

Texto de Cátia Sousa, publicado inicialmente na esQrever
*As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.*

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