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Outros Quinhentos: Portugueses – um povo que jura a pés juntos

Na crónica anterior, na qual me sentia como sardinha em lata, despedi-me jurando a pés…

Texto de Ana Salgado

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Na crónica anterior, na qual me sentia como sardinha em lata, despedi-me jurando a pés juntos. Pois é, aqui está a expressão de hoje.

Todos nós juramos qualquer coisa ao longo da vida. O amante jura amor eterno, o criminoso jura que é inocente, o vendedor jura que produto do bom só na sua loja. Nem todas as juras têm o mesmo valor: há uma escala no juramento! Muitas vezes, jura-se por dá cá aquela palha, outras jura-se por motivos mais importantes. Há quem jure pela vida dos filhos, dele mesmo, ou da sua mãe (avó dos primeiros), e por aí fora. Finalmente, há também quem jure a pés juntos. O leitor já jurou a pés juntos? Sabe porque jurou de maneira tão esquisita? Vou tentar responder…

Para isso teremos de recuar alguns séculos e falar numa instituição tenebrosa, que atormentou a vida dos nossos antepassados durante alguns séculos: a Inquisição. Corria o ano de 1536, quando se teve a triste ideia de abrir em Portugal uma filial da Inquisição, que já existia noutros sítios, e cuja origem remonta, possivelmente, ao século XII. O seu objetivo, lá como aqui, era perseguir e julgar indíviduos cujas opiniões se afastavam da ortodoxia da vigente. Bom, até aqui todos sabemos mais ou menos a história. E o resto também é mais ou menos conhecido.

Para se apurar a “verdade”, se é que de verdade se pode falar nestes casos, e como era próprio da época, os inquisidores recorriam à tortura. As torturas da Inquisição tornaram-se famosas, e a sua crueldade e brutalidade ainda hoje são recordadas sempre que se pronuncia tal nome.

Entre elas, há uma que nos interessa em particular: a de amarrar o acusado pelos pés e pendurá-lo de cabeça para baixo. Não é difícil de ver que, para a maior parte das pessoas, não será uma posição muito confortável. Assim, o acusado, para se escapar, lá concordava com as acusações, jurando a “pés juntos” que tudo o que dizia era verdade. Por analogia, as pessoas passaram a afirmar que juravam a pés juntos, tal como aqueles acusados. A Inquisição ficou para trás, mas a expressão ficou, e hoje os portugueses juram a pés juntos, mas talvez sem saber porquê.

Assim fica explicada mais uma expressão. Despeço-me com amizade até ao próximo mês natalício.

Texto de Ana Salgado
Ilustração de Mister Unknown

Se queres ler mais crónicas do Outros Quinhentos, clica aqui.

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