– Bom dia, queria um café.
— Ah, queria? Então, já não quer.
Ora aqui está um dos diálogos que mais se ouve em cafés, pastelarias e onde quer que haja um bar. É comum ouvi-lo quando usamos o imperfeito «queria», ao pedirmos algo num destes estabelecimentos. O tom varia e tanto pode ser jocoso, o que dá alguma raiva, ou de correção, quando o nosso interlocutor, assumindo uma suposta defesa da língua, tem a intenção de nos corrigir. Se for jocoso, o interlocutor é mal-educado, se procura corrigir alguém, então ele está redondamente enganado. Fica, pois, a saber que, ao empregares o imperfeito do indicativo, não estás a cometer nenhum erro! Bem pelo contrário…
Claro que é correto dizer: «Eu quero um café.» Não há nenhum problema com isso. No entanto, o emprego de «queria» também está muito bem aplicado: «Eu queria um café.» Muda-se apenas o tempo verbal. Na frase com «queria», usamos o pretérito imperfeito do indicativo do verbo querer, enquanto com «quero», fazemos uso do presente do indicativo.
Mas porquê tudo isto? Qual a razão para que haja quem diga «quero», enquanto outros preferem o «queria»? E por que motivo há tamanha sanha corretora? Bom, é tudo muito simples de explicar...
Ao pedir um café, formalmente, estamos a expressar um desejo. Com o imperfeito do indicativo, o registo é de uma maior delicadeza, o chamado imperfeito de cortesia. Por isso, há quem evite o uso do presente, embora queiramos o café nesse momento (não haja dúvidas disso), por lhe parecer que não é tão delicado – por parecer uma imposição. A razão é só esta: por motivos de cortesia, diz-se «queria um café»; quem não julgue necessário pode proferir «quero um café». Portanto, leitor, podes pedir o café conforme quiseres, estás sempre correto.
Acrescente-se ainda que o imperfeito do indicativo, tal como o condicional, é um recurso usado na interação verbal cortês.
Naturalmente, a sanha corretora advém do desconhecimento deste pequeno pormenor gramatical. Nada que não se resolva. Agora, já podes responder à letra ou, se for caso disso, evitar corrigir o que não deve ser corrigido, por nada haver a corrigir.
E assim, de forma muito educada ou cortês, continuamos a afiar a língua!