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Ambientalismo: à esquerda ou à direita?

Nas Gargantas Soltas de hoje, Rodrigo Andrade reflete sobre a génese dos movimentos sociais e de que lado do tradicional espectro político esquerda-direita se situa o ambientalismo.

Opinião de Rodrigo Andrade

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Desde sempre que a política se faz quando ideias diferentes são confrontadas umas com as outras. A política faz-se a discordar, a discutir e a argumentar e esta dinâmica está presente em todas as vertentes da nossa vida. Com o amadurecimento político de uma sociedade, é natural que surjam temas para discussão que são mais salientes que outros. Estas temas geralmente opõem diretamente dois grupos, um contra o outro, na defesa dos seus interesses, e ganham mais importância devido ao contexto político inerente à realidade política e social em que as pessoas vivem. A isto se chamam clivagens e, ao longo da história, foram encontradas umas quantas que são relevantes em quase todos os países. Estas clivagens são empregadores vs trabalhadores, Igreja vs Estado, centro vs periferia e mundo rural vs mundo urbano (ou detentores de terras vs indústria). Estas clivagens foram identificadas por dois cientistas sociais, Lipset e Rokkan, mas não precisamos de pensar muito para olharmos à nossa volta e percebermos que estas clivagens são reais e estão presentes no nosso dia a dia.

Estes temas são politizados, pelo que é natural que os partidos políticos assumam a sua defesa e que seja possível atribuir lhes atribuir um ou outro lado da clivagem consoante o seu ideário. Por exemplo, em Portugal é claro que os partidos de esquerda, como o Bloco de Esquerda ou o Partido Comunista Português representam os ‘’trabalhadores’’, ou que o CDS, situado na direita, defenda a ‘’Igreja’’. Estas preferências são expostas não só aquando da fundação de qualquer um destes partidos, mas também na política que estes fazem no dia a dia. Com a viragem para o século XXI e sendo dada cada vez mais importância a novos temas, acaba por surgir uma nova clivagem, materialismo vs pós-materialismo. Esta surge dos avanços na qualidade de vida da população e geralmente significa que os valores materialistas (segurança física, segurança nacional ou a necessidade de pôr comida na mesa) são tomados por garantidos, sendo possível às gerações futuras pensar em temas como direitos dos animais, solidariedade com países terceiros ou o ambientalismo. É sobre este último que me vou debruçar.

Tal como referi anteriormente, os partidos políticos assumem estes temas e defendem o seu lado da clivagem, e o ambientalismo não é diferente das restantes. O problema? Estes partidos frequentemente argumentam que não se identificam com o tradicional espectro político esquerda vs direita, dizendo que a emergência climática concerne a ambos os lados, ficando ‘’fora’’ da cooptação por parte desta dicotomia que todos nós conhecemos. No entanto, há uma coisa que fica esquecida: a história diz-nos que o avanço e progresso social vem da esquerda e que não é incomum a direita se opor a estes. É da esquerda que vem a luta pelas 40 horas de trabalho semanal e mais recentemente as 35 horas e a semana de trabalho de 4 dias. É na esquerda que o feminino nasce e é a partir de lá que são reivindicados mais direitos para mulheres. É na esquerda que surge a defesa das pessoas LGBTIQA+ e é também lá onde começa o movimento ‘’Black Lives Matter’’. E à direita? Levantam-se dúvidas sobre a eficácia de um horário de trabalho cada vez mais reduzido, resistiu-se à luta das mulheres por mais direitos e é questionada a legitimidade dos movimentos sociais que têm pautado o século XXI e, mais concretamente, os últimos anos.

Quer queiramos quer não, os avanços sociais são sempre promovidos pela esquerda e cooptados pela direita quando se tornam uma norma na sociedade, pelo que com o ambientalismo não será diferente. É verdade, defender o planeta devia ser uma realidade apartidária, mas não nos podemos deixar cegar por este ideário. Precisamos de ter perspetiva histórica e perceber que todos os avanços costumam vir do mesmo lado. Por isso, por muito que alguns partidos ambientalistas o queiram rejeitar, estes serão sempre partidos de esquerda na sua génese pelo simples facto de defenderem um grande avanço social.

Nos dias que correm, é verdade que quase todos os partidos têm nos seus programas um capítulo dedicado às alterações climáticas e que existem partidos verdes de direita, embora poucos. Isto acontece por força histórica e pela cada vez maior importância que a população dá este tema. Este avanço é algo natural, mas não nos podemos esquecer de quem começou por defender o planeta e qual o lado que mais lutou, e tem lutado, por esta causa.

-Sobre Rodrigo Andrade-

Rodrigo Andrade tem 23 anos e é natural do Bombarral, uma pequena vila no sul  do distrito de Leiria. As ambições académicas levaram-no para Lisboa, onde se licenciou  em Ciência Política no Iscte. Seguiu-se o mestrado na mesma área, uns dirão devido ao  gosto pelo tema, outros por falta de originalidade, mas desta vez com especialização em  Comunicação Política e Opinião Pública. Divide o seu tempo entre a terra de sua  naturalidade e a capital portuguesa e dá o seu melhor para se envolver e dinamizar a vila  onde reside. Para além da política, é interessado por ambientalismo, associativismo e pelo  passado histórico português, mais concretamente pelo período do Estado Novo e como o  seu legado se reflete nos dias que correm.

Texto de Rodrigo Andrade
Fotografia de Associação Cultural Marquesa de Ciranda
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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