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Bem Comer: A 1ª Alarvice é do autor

“Alarvice” é sinónimo de voracidade, gula, brutalidade. Qualidade (?) de quem se senta à mesa…

Texto de Redação

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“Alarvice” é sinónimo de voracidade, gula, brutalidade. Qualidade (?) de quem se senta à mesa nem tanto para comer, muito menos para degustar, nem por sombras para provar. A intenção do “alarve” será a de ingerir no menor espaço de tempo possível a maior quantidade de calorias que lhe couberem na garganta, sólidas ou líquidas.

Um bom “alarve” adora a triste mania dos “shots” – provavelmente inventou-a – já que lhe permite atingir a sensação eufórica “pré-narsa” em muito pouco tempo, independentemente daquilo que está a engolir ter (ou não) algum sabor distintivo.

Uma “cadela” pode ser atingida de diversas formas. Mas como não distinguir -  do ponto de vista estético -  quem apanha a “carraspana” por via dos “shots” e quem “encava a machada” à custa de uma garrafita Magnum (1,5 litros) de Vallado Reserva 2015?

O resultado aparentemente será o mesmo, mas à porta de casa, quando a questão for acertar no buraco da fechadura de chave na mão, quero acreditar que o senhor Vallado será mais acomodatício que os reles “shots”.

Conheci bons alarves e alarves menos bons. Tenho até a ideia de que um bom alarve é um alarve neófito, sem experiência de vida nem conhecimentos para apreciar. Se o mundo fosse perfeito o neófito “bom alarve” evoluiria para apreciador de boa comida e de bons vinhos.  Um “gourmand” sim, mas com tendência para se vir a transformar em “gourmet”.

Mas como o mundo não é perfeito, muitos destes “bons alarves” chegam à vida adulta e transformam-se em alarves certificados.

Fui algumas vezes alarve na minha adolescência. Há episódios de que ainda hoje me envergonho e outros (piores) que pura e simplesmente olvidei por causa daquela defesa natural do nosso cérebro que opera através da seleção das memórias.

Felizmente (acho eu…) existem ainda amigos desses tempos áureos que não perdem a oportunidade de recordar essas minhas malfeitorias, quase todas elas praticadas durante os anos de estudante universitário.

Numa dessas ocasiões dizem-me que tentei (é o termo) pegar sem ajudas uma vaca taurina “zurda” (com um corno mais pequeno do que o outro) numa quinta perto de Montefino (no Algarve) onde costumávamos passar umas semanas no verão.

Eu estava mais ou menos apaixonado.  Na adolescência (e talvez sempre) é esta uma situação perigosa, propensa a que se cometam asneiras.

Na festa de campo para onde tínhamos sido convidados os donos da quinta divertiram-se a brincar com os “putos” da cidade. Pior do que isso quando souberam que um ou dois eram de Cascais, meninos finos, portanto. Daí nasceu a vontade cruel de nos pregarem uma grandessíssima carraspana.

Até aí tudo bem, tínhamos o treino da queima das fitas, e dos bares do Bairro Alto à sexta feira. Não nos metiam medo os jarros de tinto e branco.  Cientes da mitologia (mentirosa) de que quanto mais comêssemos menos efeito faria o vinho, atirámo-nos como cães danados às febras e ao pão de mistura. Ninguém perguntou o grau do vinhito, nem sequer entrou nos cálculos da juventude o bagaço “caseiro”.

Depois da mesa – onde fomos muito admirados pela capacidade – estava para vir o melhor. Uma vaca taurina foi largada num cercado para divertimento da malta. Não havia farpas, não havia malfeitorias de qualquer ordem no animal.  A ideia era utilizarmos a agilidade para fugirmos ao contacto, em corrida.

Ora depois da bebida o problema estava em ver mais do que uma vaca e acertar com a verdadeira. Enquanto alguns atletas locais mais experientes citavam e escapavam de salto, a malta que tinha vindo da cidade capital olhava para aquilo tudo com olhos bem pequeninos e sem vontade nenhuma de se arrimar à vaca.

Até que – por amor – lá me resolvi a entrar na “arena”.  E pensei: “correr a fugir do animal é cobardia, vou mas é mostrar a esta malta o que vale um gajo de Cascais.”

Imaginem o tamanho da “bicha” que eu carregava.

O resto é confuso. Dizem-me que me pus a citar “do meio da praça”. A vaca correu para mim e deu-me tal pancada (felizmente era embolada) no peito que devo ter voado uns metros. Levantei-me e voltei a citar. O resultado não se alterou. À terceira vez tentei chamar o animal à razão. Chamei-lhe tudo o que me veio à cabeça, inclusive insultar-lhe a mãe. E nada. Voltei a dar com o real assento no chão.

Abandonei a lide debaixo de fortes aplausos, gritos de “o gajo é maluco” e sem dores aparentes (forte anestésico é o vinho). E essa noite correu depois muito bem. Mesmo muito bem.

O pior foi levantar-me da palha na manhã seguinte…

Texto de Manuel Luar
Ilustração de Priscilla Ballarin

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