fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Bem Comer: Esquisitices. História esquisita nº 5

Debulho de Sável Esta é mais uma história notável feita a partir da imaginação de…

Texto de Redação

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Debulho de Sável

Esta é mais uma história notável feita a partir da imaginação de quem se encarregava de manter a economia da casa equilibrada em tempos de aperto generalizado.

E é um conto minhoto, de Vila Nova de Cerveira.

Tal como em tantas outras receitas tradicionais o ponto principal do “debulho de sável” começou por ser o aproveitamento das partes do peixe que não se vendiam tão bem nem a preço tão razoável.

Hoje, como o sável é vendido inteiro, não nos passa pela cabeça que já houve uma época em que era vendido à posta…

Mas vamos por partes para se entender bem o assunto.

Há muitos anos o sável era extremamente abundante e, por isso mesmo, captura habitual nas águas dos rios portugueses, com enfâse aqui no  Rio Minho.

Nesta altura as mulheres dos pescadores – tal era a abundância do sável – vinham para a rua de canasta à cabeça para vender o peixe às postas. Se não o vendessem estragava-se. Não havia rede de frio, nem frigoríficos.

As freguesas - que eram as senhoras “donas-de-casa” - preferiam as postas maiores, ficando as peixeiras com as partes inferiores do sável, a cabeça, o rabo e a parca gola (posta junto à cabeça). No fim de contas as postas mais pequenas, às quais às vezes se juntavam ainda as ovas se as mesmas não fossem vendidas – não lhes pareça estranho, a açorda de sável com ovas não era minhota, mas sim do Ribatejo.

Havia então que se encontrar uma forma de aproveitar essas partes do sável menos nobres e menos vendáveis, criando-se assim o “debulho”.

Na prática é uma espécie de “cabidela de peixe”, à qual nem falta o toque de vinagre, como se pode observar pela receita em baixo.

O sável deve ser bem escamado e limpo. Em seguida, corta-se a cabeça e a gola. Junto a esta está o fígado ao qual se extrai o fel e é logo aproveitado

Resguardam-se as ovas e reserva-se todo o sangue que for possível e que irá servir para enriquecer a base do arroz.  Utilizam-se também o rabo e as postas mais pequenas que lhe são adjacentes.

Numa larga tigela ou alguidar de barro coloca-se então o “debulho” que é formado por estas postas todas, mais as ovas ( se existirem) e o fígado.

Temperam-se com sal, salsa, louro, pimenta, uns pouquinhos cravinhos e cobre-se com vinho verde tinto. Deixa-se marinar durante a noite.

Já no dia do almoço vamos tratar da confeção: à parte picamos uma cebola de bom tamanho e refoga-se num pouco de azeite. Vai ao lume num tacho grande de ferro ou alumínio fundido e logo que a cebola esteja a ficar transparente adiciona-se um pouco de colorau e o “debulho” completo com a marinada.

Cozido o peixe, retira-se para um recipiente ao lado do tacho.

E é no tacho onde se refogou que vamos fazer o arroz: à marinada inicial, junta-se a água necessária para cozer o arroz e uma meia chávena de chá de vinagre de vinho tinto. Assim que o arroz esteja a abrir acrescentamos o “debulho” e retificam-se os temperos ao mesmo tempo que vai apurando.

Deixamos repousar uns minutos e serve-se o arroz malandrinho, espalhando por cima alguma salsa picadinha.

Nem é preciso dizer que se deve comer este prato minhoto típico acompanhando com um vinho verde tinto da casta Vinhão.

Uma bela escolha é o AJTS de Amarante. Feito pela família Sampaio, na quinta da Ribeira, perto de Gatão. A dificuldade em o encontrar cá para o sul ainda o torna mais desejado…

Texto de Manuel Luar
Ilustração de Priscilla Ballarin

Se queres ler mais crónicas do Bem Comer, clica aqui.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

11 Março 2024

Maternidades

28 Fevereiro 2024

Crise climática – votar não chega

26 Fevereiro 2024

Os algoritmos em que nós podemos (des)confiar

25 Fevereiro 2024

Arquivos privados em Portugal: uma realidade negligenciada

21 Fevereiro 2024

Cristina Branco: da música por engomar

31 Janeiro 2024

Cultura e artes em 2024: as questões essenciais

18 Janeiro 2024

Disco Riscado: Caldo de números à moda nacional

17 Janeiro 2024

O resto é silêncio (revisitando Bernardo Sassetti)

10 Janeiro 2024

O country queer de Orville Peck

29 Dezembro 2023

Na terra dos sonhos mora um piano que afina com a voz de Jorge Palma

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0