fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Bem Comer: Esquisitices. História esquisita nº 8

Coisas que nos parecem “esquisitas” são hoje notícia em todos os meios de comunicação social….

Texto de Redação

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Coisas que nos parecem “esquisitas” são hoje notícia em todos os meios de comunicação social. E os exemplos vão da política à ciência, passando pela vida de todos os dias das pessoas comuns ou, ainda mais, das de alto perfil mediático.

Por exemplo, o Presidente Hugo Chavez acreditava (ou assim o dizia) que a maior parte dos terramotos eram causados pelas experiências da marinha americana. O Conselho da Europa considerava a "maior vigarice do século" a declaração de pandemia da Gripe A por parte da OMS em 2009. Já para não falar daquele Sr. Presidente norte-americano que desejava comprar a Gronelândia, e que disse a uma criança do seu país que “ele era o Batman” …

No capítulo da alimentação o que pode ser esquisito para alguns será petisco desejado para outros. Basta pensar na cozinha asiática e nos seus ingredientes mais estranhos quando comparada com os padrões ocidentais do gosto.

Nas emergências é normal mandarem-se para trás das costas algumas (se não todas) estas preocupações estéticas e de algum nojo. Em caso de necessidade tudo o que vem à rede é peixe. Mesmo botas da tropa.

Existe um molusco gastrópode que tem a fama de ser o mais antigo animal do mundo que foi domesticado, e que é um alimento ainda hoje apreciado em toda a bacia do mediterrâneo, mas nem tanto fora destas paragens. O caracol.

Encontram-se nas lixeiras pré-históricas conchas de caracóis com datações anteriores a 10,000 anos. E em regiões que vão da Tunísia até ao sul da França, passando pela Grécia, Portugal e Espanha. Assim acredita-se que entrou há tempos remotos na cadeia alimentar dos povos dessas regiões, principalmente em tempos de vacas magras. Alimentava exércitos, ia a bordo de navios, era um conforto para as pessoas mais pobres.

Com o nome de “escargots” o animalzinho aburguesou-se, fez o “début” na alta cozinha e penetrou nos escaparates de restaurantes de luxo.

E como é uma boa fonte de proteínas, mas pobre em gordura e calorias e rico em sais minerais e vitaminas, está na moda como alimento saudável.

Não deixa de ser ainda hoje um petisco de final de tarde, próprio dos meses de verão (de maio a agosto será a época oficial) e que é uma boa desculpa para beber umas cervejas. Pelo que lá irão para outras paragens as vantagens dietéticas…

Em Portugal, e apesar do Algarve ter importantes pergaminhos na matéria, Lisboa é a capital do caracol consumido.  Embora muitos dos que por ali se comem tenham sotaque marroquino.

Podem ser grelhados, estufados, assados até. Mas a forma mais conhecida de os cozinhar aqui na nossa terra é serem cozidos em água, com sal, orégãos e alho esmagado no fundo da panela, para quem gosta.

Só se cozinham depois de terem sido muito bem lavados. Lavar bem é essencial porque (para além da desagradável “goma”) o caracol tem a boca perto dos órgãos genitais e do “pé” por onde se arrasta.

Devem ficar de molho pelo menos de um dia para o outro em água e sal. E serem passados abundantemente por água corrente fria antes e depois da demolha.

Existem truques que só a experiência dos anos dá. Por exemplo, o sal só deve ir para dentro da panela depois dos caracóis estarem mortos. Em caso contrário eles retraem-se nas conchas e são mais difíceis de retirar.

Em minha casa o “rei dos caracóis “era o meu pai. A minha mãe nem se aproximava deles, antes ou depois de cozinhados.

O meu pai recebia por vezes engenheiros franceses que vinham a Portugal ensinar a trabalhar em construção civil pelo método das “cofragens”, uma novidade dos anos 70 do século passado que tinha a grande vantagem de diminuir bastante o tempo de execução dos projetos.

Um deles, a quem eu servia de intérprete durante o verão no estaleiro das obras, tornou-se amigo da família e foi passar o dia em nossa casa. Depois da praia (vivíamos muito perto do mar) estava previsto o petisco dos caracóis à algarvia - como naquele tempo se chamava ao prato dos caracóis cozidos em água com orégãos – no nosso quintal.

Os caracóis ficaram logo pela manhã de molho em água e sal para libertarem as toxinas, mas como a tampa de alumínio não estava bem amarrada ao alguidar de plástico onde eles se encontravam, durante a tarde as paredes da cozinha estavam “vivas” de caracóis a trepar.

E como a minha mãe se recusava a entrar na cozinha, o assunto foi logo ali passado aos “homens”.

Foi este “lanche” uma das coisas mais divertidas de que me lembro, com o francês comigo e com o meu pai à cata de caracóis pelas paredes. Com o auxílio de bancos de cozinha e até de um escadote!

Depois do perigoso episódio da “caça” ficámos todos de mangas arregaçadas à espera que os caracóis cozessem e a beber vinho verde Gatão bem fresco (eles) e Laranjina C (eu). Comeu-se tudo, lamberam-se os beiços e para terminar em beleza o meu pai tirou da garrafeira uma aguardente velha Ramos Pinto que (segundo disse quem a bebeu) pedia meças a qualquer bom cognac.

O amigo francês foi para casa com uma bela história para contar: La chasse chez Monsieur Victor Cruz!

Texto de Manuel Luar
Ilustração de Priscilla Ballarin

Se queres ler mais crónicas do Bem Comer, clica aqui.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

11 Março 2024

Maternidades

28 Fevereiro 2024

Crise climática – votar não chega

26 Fevereiro 2024

Os algoritmos em que nós podemos (des)confiar

25 Fevereiro 2024

Arquivos privados em Portugal: uma realidade negligenciada

21 Fevereiro 2024

Cristina Branco: da música por engomar

31 Janeiro 2024

Cultura e artes em 2024: as questões essenciais

18 Janeiro 2024

Disco Riscado: Caldo de números à moda nacional

17 Janeiro 2024

O resto é silêncio (revisitando Bernardo Sassetti)

10 Janeiro 2024

O country queer de Orville Peck

29 Dezembro 2023

Na terra dos sonhos mora um piano que afina com a voz de Jorge Palma

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0