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Outros Quinhentos: Expressões das Invasões Francesas

Depois de termos terminado à grande e à francesa (relembra aqui a explicação), convido-vos a…

Texto de Andreia Monteiro

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Depois de termos terminado à grande e à francesa (relembra aqui a explicação), convido-vos a conhecer mais algumas expressões cuja origem se localiza nesse período em que os franceses por cá andaram – o das Invasões Francesas, entre 1807 e 1810 –, e que ainda hoje anda na boca de todos nós, portugueses.

Ir/mandar para o maneta

Dar cabo de alguém ou de alguma coisa; destruir; morrer.

Durante a primeira invasão das tropas napoleónicas, havia um general, o francês Henri Louis Loison. Se poucos decoraram o seu nome, muitos não podiam esquecer a sua extrema crueldade, torturando muitos presos e sendo responsável por muitas mortes. Como este general não tinha um braço – ele havia perdido o braço esquerdo num acidente de caça –, os portugueses chamavam-lhe o “maneta”. Loison foi o verdadeiro rosto da morte durante as invasões e “mandar para o maneta” era, nem mais nem menos, mandar para a tortura ou até mesmo para a morte.

Ficar a ver navios

Esperar por algo que não vem; não conseguir o que se deseja; sofrer uma desilusão.

Quando Junot entrou em Lisboa, em 30 de novembro de 1807, ainda conseguiu ver os navios que seguiam rumo ao Brasil. O príncipe-regente D. João, futuro D. João VI, a rainha D. Maria I e a corte portuguesa tinham embarcado neles nos dias anteriores e iniciado a viagem a 29 de novembro. Por isso, Junot não conseguiu capturar a família real, que continuou a reinar do outro lado do Atlântico.

Por curiosidade, fiquem a saber que há mais explicações em torno desta expressão. Uma delas remete-nos para o sebastianismo – crença de que um dia D. Sebastião regressaria a Portugal, para levar o país de volta a uma época de conquistas. Após a sua morte, na batalha de Alcácer-Quibir (1578), houve muita gente que se recusou a aceitar esta fatalidade. Assim, durante o domínio filipino, havia quem se deslocasse ao Alto de Santa Catarina para ver chegar os navios na esperança de que o desejado rei regressasse. Na verdade, também eles ficaram a ver navios, pois o rei nunca voltou.

Sair à francesa

Abandonar um local pela calada, de forma que poucos se apercebam; sair de fininho.

Curiosamente, a expressão sair à francesa também existe na língua inglesa, “take french leave”, enquanto, por sua vez, sair à inglesa, “filer à l'anglaise”, é dos franceses. De onde surgiram estas expressões? Dos militares, referindo-se a soldados que abandonam o seu posto sem avisar ninguém.

Por cá, “sair à francesa” deve-se, provavelmente, à derrota de Junot. Após o desembarque de forças britânicas em Portugal em 1808, as tropas francesas foram derrotadas na famosa batalha do Vimeiro. Retiraram-se depois para França, após encherem os navios de tudo quanto puderam na sequência de incontáveis atos de pilhagem em igrejas, palácios e bibliotecas – num dos maiores atentados desde sempre cometidos ao património nacional. Zarparam assim, de armas e bagagens.

Mas há quem não fique satisfeito com esta explicação e defenda que a expressão tenha origem além-fronteiras. Ao contrário de hoje, no século XVIII, em França, era sinal de grande delicadeza uma pessoa abandonar uma reunião ou um convívio sem se despedir dos demais. Esta prática generalizou-se, mas com o tempo passou a significar o contrário: falta de cortesia. Assim, a fama terá ficado: sair à francesa é sair sem o anunciar.

Porque achamos nós que os franceses saem sem avisar? Verdadeiramente, não sabemos, mas estas explicações não deixam de ser razoáveis e, possivelmente, uma delas será verdadeira...

E assim, saio de fininho… Não me digas que já estás com a pulga atrás da orelha?

Um abraço, despeço-me com amizade!

Texto de Ana Salgado
Ilustração de Carla Rosado

Se queres ler mais crónicas do Outros Quinhentos, clica aqui.

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