“Olha aquele ali a mandar postas de pescada!”
Será que podemos mandar uma posta de robalo? Não, não me parece. Português que se preze manda postas de pescada, não é assim? Ou talvez não! Há também quem arrote postas de pescada, nada bonito, não? Mas, na verdade, estes dois verbos “mandar” e “arrotar” acompanham muitas vezes a posta… de pescada como vamos ver a seguir.
Arrotar/mandar postas de pescada quer dizer que alguém se está a gabar ou a vangloriar muito, que está a bazofiar! E geralmente gaba-se de coisas que não correspondem bem à realidade. São os gabarolas, são esses que mais postas de pescada mandam.
Mas porquê uma posta de pescada e não de outro peixe qualquer?
Usemos o exemplo de cima. Ninguém se imagina a dizer: “Olha aquele ali a mandar postas de salmão!” Não, não soa bem. Raios! Para funcionar e fazer sentido, tem mesmo de ser pescada. Então, porquê?
Ao que tudo indica o uso de pescada não é mesmo por acaso. A pescada era um peixe caro, não era para a boca de qualquer um. Durante vários séculos, a pescada foi considerada valiosa. No Foral de Lisboa, em 1500, este peixe encontrava-se na lista das preferências, seguido dos gorazes, cachuchos ou cavalas, e por aí em diante: “O conduto dos pescadores de Lisboa é este: a cada um, uma pescada se a trouxerem; e, se trouxerem gorazes, a cada um, quatro; e se cachuchos ou cavalas, a cada um, seis […]”, etc.
Aqui vos deixo com mais uma expressão bem nossa. Até breve, e já sabem: podendo, fiquem por casa. Os tempos não estão fáceis.