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Afiar a Língua: Estou certo ou errado? (Parte 2)

Depois de termos explorado alguns tópicos em que se encontram mais desvios à norma padrão,…

Texto de Andreia Monteiro

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Depois de termos explorado alguns tópicos em que se encontram mais desvios à norma padrão, nomeadamente a ortografia e a pronúncia, na última crónica, hoje abordaremos os seguintes: a morfologia, a semântica, a regência, a concordância e a pontuação.

Vamos às concordâncias!

Os desvios costumam surgir com mais frequência nos seguintes casos: na formação do plural dos nomes compostos, como no caso de “guardas-chuvas” ou “paras-choques”, em que o correto é “guarda-chuvas” e “para-choques”, uma vez que o primeiro elemento destes compostos é uma forma verbal e, portanto, não forma plural; no género dos nomes, observemos o caso de TAC. Este acrónimo, “Tomografia Axial Computadorizada”, é do género feminino, em concordância com o elemento “tomografia”. O género de acrónimos e siglas é sempre semelhante ao núcleo (isto é, ao elemento essencial) da unidade em questão e que, geralmente, é o primeiro elemento. A designação de “um TAC” é aceite quando se faz referência ao exame médico complementar de diagnóstico que é “a TAC”.

E já que falo de siglas, um outro erro muito frequente é o de pluralizar estas unidades. Lê-se muitas vezes, por exemplo, “os CD’s” ou “os DVD’s”. Na verdade, as siglas não formam plural, sendo o artigo que as precede que dá a informação do número. Relativamente ao uso do apóstrofo, esta partícula nunca forma o plural, nem em português nem em inglês (onde é um caso possessivo). Diz e escreve corretamente: “recebi muitas SMS; Portugal faz parte dos PALOP; os PEC levaram à crise política”; por último, no emprego verbal, verifica-se uma grande confusão quando se pretende conjugar determinados verbos, como é o caso do verbo intervir. Este verbo é um derivado de vir, logo toda a sua conjugação é igual à deste verbo (vir) e não do verbo ver. Por exemplo, as formas corretas de terceira pessoa são “interveio” e “intervieram” e não “interviu” ou “interviram”.

O verbo haver é um verbo muito maltratado na língua. Sempre que este verbo é usado como impessoal com o sentido de existir, só se conjuga na 3.ª pessoa do singular. Diga corretamente: “Houve pessoas”. Isto para não falar do hás de e não “hádes”. O único Hades de que ouvi falar era um deus grego.

Ai, não é nesse sentido!

Estes erros ocorrem quando se usa uma palavra em lugar de outra por falsa associação de sentido entre elas. Troquemos isto por miúdos. Ouve-se, não raras vezes, a construção: “derivado a” com o sentido de causa. Não a uses, por favor. O vocábulo derivado exprime origem e é acompanhado da preposição de: “O queijo é um derivado do leite.” Se queres exprimir causa, lembra-te sempre: “devido a”. Devido exprime causa e deve ser acompanhado da preposição a, como em: “Devido ao mau tempo, não saí de casa.”

Elegendo a preposição certa!

A regência é a relação de dependência entre duas palavras numa construção, na qual uma (a regida) complementa a outra (a regente). Por vezes, surgem-nos dúvidas quanto à regência de determinados verbos, nomes e adjetivos.

Vejamos o seguinte exemplo: “ir ao encontro de” ou “ir de encontro a”? A construção “ir ao encontro de” tem o sentido original de “ir em direção a” e, por extensão de sentido, é usada com o significado de “estar de acordo com”, tendo um significado antagónico à expressão “ir de encontro a”, que significa “ir contra; embater”. É errado dizer “fui de encontro aos meus objetivos”, para significar concordância, sendo o correto “fui ao encontro dos meus objetivos”. A expressão “ir de encontro” é bem empregue numa frase como “fui de encontro a uma árvore”.

Pontuar sempre corretamente!

A rainha dos sinais de pontuação é a vírgula, como já aqui vimos. Separar o sujeito do verbo é um erro grave. Este pequeno sinal de pontuação pode alterar completamente a sua intenção. Repara na diferença: “Não, gosto de ti!” ou “Não gosto de ti!” Aconselho-te a pontuar corretamente ou poderás ser alvo de um mal-entendido!

Relembro, agora, o que escrevi na última (nunca me parece demais): “Errar é humano, mas vigia o teu discurso, fica mais atento à tua escrita. Vale apenas o que (te) soa bem ao ouvido? Não! E para combater dificuldades na escrita, lê mais. O livro é uma excelente companhia; viaja e sente o prazer da leitura. Falar e escrever bem são provas de amor pelo nosso idioma e gostaria que tu as partilhasses comigo.”

Na próxima crónica do Afiar a Língua, daqui a 15 dias, lançamos um desafio: tens alguma dúvida em particular que gostarias de ver esclarecida neste espaço? Envia-nos as tuas sugestões para ge*****@*****or.eu, com “Afiar a Língua” no assunto do email, e assim continuaremos a afiar a língua!

Texto de Ana Salgado
Ilustração de Carla Rosado

Se queres ler mais crónicas do Afiar a Língua, clica aqui.

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