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BEM COMER #46

Vou hoje fingir que somos “afluentes”. Ou que estamos num momento em que gozamos de…

Texto de Margarida Marques

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Vou hoje fingir que somos “afluentes”. Ou que estamos num momento em que gozamos de uma certa “afluência” de bens materiais.

“Afluente” não é o mesmo que “influente”. Embora um gajo “afluente” seja normalmente “influente”. Exemplos de gente não “afluente” mas “influente” há poucos mas bons. A Madre Teresa de Calcutá vem à memória. Ou S. Francisco de Assis, cuja influência chega aos dias de hoje.

O que será um “afluente”? “Afluente” é rio tributário de outro maior. Mas, para certos papagueadores da língua portuguesa, é também um anglicismo retirado da palavra “affluent”.

(Affluent: Generously supplied with money, property or possessions; prosperous or rich.)

Em poucas e bem mais lusas palavras, falamos de gente rica. Alguns de nós são ricos em certos momentos do mês, do ano ou da vida. Outros são-no desde que foram concebidos e até ao dia do enterro. E ainda existem os outros que infelizmente nem mortos nem vivos saberão alguma vez o que é a riqueza mundana.

Houve alturas (poucas) em que me senti rico de dinheiro.

Por exemplo, ganhei recentemente 400 euros na lotaria.

Como não estava à espera e tinha os compromissos do mês resolvidos, pus-me logo a pensar onde ia gastar “a fortuna”.

O novo Iphone 7 ainda não tinha saído, mas imagino que o dinheiro seria curto. Para o relógio IWC Ingenieur Boutique era curtíssimo. Para o novo Audi Q2 nem chegava a fita métrica para aferir…

O Barca Velha de 1983 custava essa quantia na Garrafeira Nacional. E estive mesmo tentado porque era uma das que faltava na minha coleção. Devo dizer que foi o artigo no Expresso sobre a ASAE e a falsificação deste vinho que me fez parar. Confio implicitamente na GN, mas o seguro morreu de velho…E eram 400 euritos.

Decidi assim ir comer uma mariscada ao Beira-mar. Bruxas da nossa costa, lagostins, gambas de Cascais, e percebes. Em boa companhia!

Duas criaturas alambazaram-se com uma travessa cheia destas coisas boas.

Começámos por beber Reguengo de Melgaço Alvarinho 2015.  E Soalheiro também de 2015. Encerrou o duelo vínico o Palácio da Brejoeira 2014, um grande vinho da casta com um perfil agora muito mais leve do que os antigos do mesmo solar.

Para quem não gosta de marisco grande (lavagantes e lagostas podem andar a passear à minha frente que só as apanharia para trocar por bruxas ou percebes) esta foi uma travessa memorável. Os lagostins estavam carregados de corais e as cabeças deixavam-se sorver deliciosamente. As bruxas eram fresquíssimas e cozidas na altura, apenas passadas por água fria depois da panela. E as gambas de Cascais (primas das de Quarteira) estavam divinais, até encontrámos no meio das normais uma que teria quase 8 cm. Antigamente eram todas assim.

Depois da desbunda vieram dois pregos do lombo para acalmar os estômagos, pouco habituados a tal “afluência” de excelências gastronómicas da nossa costa.

Filosofando na esplanada, em volta de um Romeu y Julieta Petit Churchill e tendo à mão um cálice de Lagavullin 16, refleti que esta coisa dos 400 euros disponíveis ainda bem que não acontecia todos os dias.

O que seria se enjoássemos os lagostins e as bruxas? Passávamos para a sardinha assada e para o tinto de Vinhão?

Ora essa! Cada macaco no seu galho!

Nota: depois de premiar o cauteleiro e pagar a continha no restaurante o prémio da lotaria ficou logo negativo…Um gajo entusiasma-se e lá se vai a “afluência”…

Manuel Luar

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