Os portugueses (mais os homens) historicamente nunca se preocuparam muito com as questões estéticas em redor do volume do respetivo corpo. Se tinham tendência para engordar, engordavam; se os genes ancestrais eram do outro tipo, por muito que tentassem não ganhavam peso que se visse.
Essa perspetiva acabou lá para o final do século passado. Revistas, televisão, programas de rádio e todas as redes sociais onde aparecem fotografias exigem que o aspeto geral do macho lusitano esteja de acordo com o imperativo da norma imperial vigente: magro e atlético.
Nem discuto a mudança. Esta moda tem até a vantagem de estar alinhada pelos preceitos da moderna ciência médica.
O homem português atual tornou-se assim mais picuinhas, pergunta no restaurante se o peixe é grelhado, e com qual tipo de gordura. E tornou-se também grande (enorme) bebedor de água às refeições.
Não se pode dizer apenas mal destes novos costumes. Lembrando a conhecida frase da Duquesa de Windsor: "You can never be too rich or too thin”.
Os velhos romanos tinham dois ditados a propósito destes assuntos: “Dum vivo spero” – espero viver muitos anos. E “Dum vivo cano” – enquanto estivermos vivos devemos celebrar.
São duas filosofias de vida. Claro que o ideal seria seguir as pisadas de Winston Churchill, que nunca abdicou do champagne, do cognac, nem dos charutos, e morreu com 91 anos, com o papo cheio de tudo quanto era bom e caro. Há milagres, mas não se costumam repetir.
Depois de uma noite passada a discutir estas novas ditaduras da moda (o que comer, o que beber e o que vestir) um grupo de foliões já avançados na animação acabou por dar a tática para uma dieta rigorosa. Que até levava em conta a máxima reconhecida de comer pelo menos 5 ou 6 vezes ao dia, e sem conter qualquer tipo de doces nem de fruta.
Não resisto a transcrever a “receita” pedindo desculpa por estar a citar de cor.
Ao levantar: um Gin Tónico com pouca água tónica (lá está a dieta...ter cuidado com as quantidades); umas amêndoas salgadas. Pode substituir o Gin por Vodka.
Pelas 11.00h: um café (mas curto, atenção às quantidades) e um bagaço bem aviado, acompanhem com um pires pequeno de azeitonas.
Almoçar impreterivelmente às 12.30h para dar tempo de enfiar o lanche antes do jantar. Sugestões para este almoço: Tripas à moda do Porto. Dispensar o arroz branco. Beber uma garrafa de 0,75l de vinho tinto feito com desengaço (o engaço sempre engrossa o vinho, e ao bebermos apenas 0,75 l estamos também a reduzir a quantidade de líquido que é costume enfardar). Evitar digestivos ao almoço. Guardam-se para o jantar evidenciando muito bom senso e garantindo uma redução calórica importante.
Pelas 16.30H o lanche: duas sandes de leitão e um “penalty”, mas pedir no estabelecimento para lhe retirarem a pele, está provado que a pele do leitão engorda muito.
Às 19.30H, o jantar: Terá de ser peixe, para que a dieta esteja equilibrada. De preferência peixe cozido ou grelhado, está claro! Recomenda-se então um bacalhau cozido com todos, mas onde se retiram as couves e as cenouras do acompanhamento. Apenas batatas, não mais do que 6 por pessoa, dois ovos cozidos, meio quilo de grão de bico, e - vá lá para não ser tudo sacrifício - uma meia cebola também cozida. Acompanhar com salsa e alho picados (está provado que são bons facilitadores do trânsito intestinal). Salpicar o prato com colorau a gosto e regar com azeite extra virgem abundantemente (também facilita o trânsito).
Para servir de companhia a este sóbrio jantar, uma garrafa de 0,75 l de um branco da Adega da Cartuxa . Há aqui um truque de dietista: Ao evitarmos beber o vinho tinto guloso que é normal associar ao bacalhau estamos a contribuir para que a dose consumida do fiel amigo não ultrapasse uma travessa funda.
Às 21.30 um pouco de exercício: sentar-se em frente à TV e beber um whisky de malte. Mas atenção: utilizar copos de Porto e não os habituais Balões, que têm maior capacidade. O exercício consiste em levantar por várias vezes (as que conseguir) o copo à boca, na posição de refastelado.
Bom proveito e Boa sorte para perderem mais uns quilinhos. Vão precisar de sorte mesmo…