Como se escreve sobre a Liberdade? E como se escreve sobre a Liberdade quando ela completa 50 anos?
Escrever é sempre um ato de captura. De captura de impressões, de emoções, de perspetivas. De captura de uma realidade que ora se transcende na escrita ou fica aquém do que efetivamente é. Então, como se fala de Liberdade recorrendo à captura? Para mim, falando do que nos torna livres.
Quanto mais observo a realidade, nesta ânsia de a capturar, mais dou por mim a regressar ao passado. Não apenas no olhar ou na memória histórica, mas no ar que me preenche os sentidos ao andar pelas ruas ou pelos corredores institucionais da casa da democracia europeia. E na comparação dos tempos, do ar dos tempos, encontro-me cada vez mais há 100 anos. Tal como há 100 anos, à nossa volta proliferam guerras fratricidas. As lideranças europeias, e mundiais, desprovidas de visão de futuro e imersas na espuma dos dias da sobrevivência umbiguista, são mais Chamberlain que Churchil. Há 95 milhões de europeus que vivem em pobreza ou em risco de exclusão social. E, tal como há 100 anos, aqueles que só conseguem triunfar a semear o ódio, a divisão e a mentira, pairam sobre as nossas democracias como vampiros, sedentos do poder pelo poder, sem nenhuma real solução para os problemas das pessoas.
Mas há tempo para inverter este rumo? Há tempo. Há tempo porque há esperança.
São 50 anos. 50 anos desse momento fundador da nossa vida coletiva em Liberdade. 50 anos que nem a forte assombração de 50 pessoas podem ameaçar. São 50 anos em que existimos mais enquanto país, que um país é sempre quase nada sem Liberdade. Os ares sombrios que pairam sobre toda a Europa, que atravessam todos os Oceanos, são apenas o prenúncio para nos despertar para o muito que há para fazer.
Este não é o tempo para baixar os braços. Não é a hora da política dos interesses, nem dos interesses na política. É tempo de lutar. De lutar por um sistema económico mais justo, que faça do combate às desigualdades o seu principal desígnio. De lutar pela sustentabilidade e pelo futuro das gerações vindouras, pelo seu direito a serem felizes agora. De lutar por uma democracia que garanta e respeite os nossos direitos fundamentais, permitindo que cada um possa encontrar o espaço para concretizar os seus sonhos. De lutar por um sonho de comunidade em que cuidamos uns dos outros e em que cada um de nós é livre para ser o que é, porque só somos verdadeiramente livres quando todos formos livres.
E o que faz de nós livres? Como podemos nós ser, e continuar a ser, livres?
Como dizia Gramsci, “quem vive verdadeiramente não pode não ser cidadão e não tomar partido” porque “a fatalidade que parece dominar a história não é senão a aparência ilusória dessa indiferença”. É, por isso, hora de vivermos e de tomarmos partido. É hora de vivermos, de tomarmos partido e de, assim, sermos livres.
Nada de baixar os braços ou de nos resignarmos com o futuro que nos querem impor. Não há nada pior do que a resignação ou o conformismo do “sempre se fez assim”. Está nas nossas mãos e apenas nas nossas mãos lutarmos contra a indiferença e a apatia, de sermos a força que transforma este presente no futuro em que queremos viver. O futuro depende de cada um de nós e de todos nós juntos!
Como cantava o José Mário Branco, “[abril] é um lindo sonho para viver | quando toda a gente assim quiser”. E nós temos de querer. Em Liberdade. 25 de abril sempre!
- Sobre o João Duarte Albuquerque -
Barreirense de crescimento, 35 anos, teve um daqueles episódios que mudam uma vida há pouco mais de um ano, de seu nome Manuel. Formado na área da Ciência Política, História e das Relações Internacionais, ao longo dos últimos quinze anos, teve o privilégio viver, estudar e trabalhar por Florença, Helsínquia e Bruxelas, onde reside e trabalha atualmente - algures pelos corredores do Parlamento Europeu. Foi presidente dos Jovens Socialistas Europeus e candidato ao Parlamento Europeu, nas eleições de 2019.