Desta vez foi ao artista plástico Vasco Araújo que o Gil decidiu lançar as suas inusitadas perguntas :-)
Qual foi a última vez que testemunhaste algo de transcendente?
(riso) A última vez... a última vez que testemunhei algo de transcendente foi a exposição da Doris Salcedo no CAM, o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian.
O que é uma ideia?
Uma ideia é um conceito
Não consegui arranjar uma pergunta para esta parte... Falas-me do teu vulcão?
O vulcão é uma metáfora para a existência, uma metáfora para a mudança interior do ser humano. Portanto, este vulcão que é um mal, foi sempre visto assim, uma catástrofe, eu vejo como o oposto; enfim, claro que é uma catástrofe, destrói cidades, etc., mas ele destrói e constrói na mesma medida: cria mais terra, o solo fica mais fértil. Esta é a melhor metáfora para o ser humano. Temos pavor de mudar, ficamos perturbados interior e psicologicamente, e nunca percebemos que toda a mudança é sempre para melhor. O que estamos a fazer quando atravessamos uma mudança -- física, psicológica, geográfica -- é avançar com a nossa vida, sempre.
Qual foi a maior mudança porque tu passaste?
Corpo.
...Corpo?
Sim. Perdi 55kgs (riso).
Se te pudesses pôr no lugar de alguém, de forma a conseguires compreendê-lo perfeitamente
Toda a gente. Toda a gente, até porque para fazer o meu trabalho tenho de me pôr constantemente nessa posição.
Que trabalho te falta?
Todos. Todos e nenhum. A ideia de que os artistas têm de morrer velhos para fazerem o máximo de trabalho é um disparate, não faz sentido. Eu posso morrer amanhã e fiz o que tinha a fazer. Se só havia aquele tempo, então era só esse o trabalho que eu tinha para fazer, não tinha mais nada.
Entrevista por Gil Sousa
Fotografia por Catarina Sanches