A pergunta é difícil e não pretende procurar culpados para a distância informativa que se sente entre Portugal e o Parlamento Europeu. Cinco anos depois, voltamos à mesma reflexão que fazemos em todas as eleições: porque é que os partidos políticos têm tanta dificuldade em comunicar aquilo que se passa naquele pedaço de “ilha” isolada que se chama Parlamento Europeu?
Na Europa dos 27, há muitas políticas que advêm das decisões europeias. Como membros do espaço comunitário, este é um processo natural que procura consenso entre todas as cores políticas de todos os países. Também é natural que não haja unanimidade sobre diversos temas, mas a discussão fortalece a democracia e encoraja as diferenças positivas entre as culturas europeias — desde que sejam respeitados os valores que fazem da União Europeia um projeto livre, seguro e inclusivo para todos.
Aquilo que não é tão natural é não saber como transmitir os avanços políticos europeus aos portugueses. Além da dificuldade dos eurodeputados em comunicar, também parece haver dificuldade em convencer os média sobre a necessidade de abordar os temas europeus. Não existe, por exemplo, uma editoria nos jornais destinada a este tema e, na maior parte das vezes, os episódios europeus acabam por cair para dar lugar às questões nacionais. É sobre isto que temos de refletir no novo mandato que se aproxima.
A premissa é simples: apesar de a informação estar disponível nos locais próprios, ela não chega às pessoas se não for bem comunicada. Isto é o ponto de partida para qualquer área. Por exemplo: para que precisaríamos de campanhas anuais de sensibilização de saúde, como acontece com a vacinação, se a informação está disponível nos respetivos canais? Porque precisamos sempre de comunicar para as pessoas no momento, no tom e nos meios certos — uma preocupação que parece não existir na União Europeia.
É verdade que não há uma receita mágica nem podemos obrigar a comunidade a ganhar interesse sobre as políticas europeias. Mas, do lado das instituições, ainda há um caminho que tem de ser trilhado. Para isto, formemos um triângulo: Parlamento Europeu, equipas dos eurodeputados e meios de comunicação nacionais. Que papel podem ter estas figuras na mudança do cenário de pobreza informativa?
Em primeiro lugar, o Parlamento Europeu e as instituições precisam de investir na comunicação. Muitas vezes, para existir uma mudança estrutural, o progresso tem de ser feito top-down, de forma a mexer com as bases. É preciso mais recursos técnicos, mais investimento financeiro e mais recursos humanos para consolidar essa mudança. É preciso oferecer às delegações dos eurodeputados as ferramentas certas e adequadas para olharem para a comunicação e informação como uma prioridade. Parece óbvio: a reestruturação tem de começar por cima.
Em segundo lugar, as equipas dos políticos têm de priorizar a área da comunicação. Alguns deputados vão usando as redes sociais numa clara aproximação aos jovens, outros participam em eventos e palestras. É um passo, mas ainda não é suficiente, porque a informação não chega às massas. É preciso procurar histórias, ângulos e ganchos que prendam os jornalistas. É preciso criar novidade, posicionar um porta-voz com o soundbite perfeito, fazer acontecer um episódio mediático. Ao início, pode parecer complicado, mas é uma terça-feira normal para o spin doctor de serviço.
Por último, em terceiro lugar, os jornais, editorias e jornalistas têm de perceber a magnitude da União Europeia. A imensidão de normas que são transpostas a nível nacional influencia a nossa vida de forma recorrente. Precisamos de ouvir quem toma estas decisões, escrutinar votações, questionar leituras sobre as leis, fazer fact-checking e normalizar o dia a dia dos corredores do Parlamento Europeu na televisão.
Olhando para tudo isto, no limite, também falamos de literacia política: existe quem não saiba quais são as instituições europeias, nem como votam os nossos eurodeputados, nem que diretivas são aprovadas e transpostas a nível nacional. A falta de comunicação promove a falta de informação. É como se as fronteiras se erguessem de novo numa Europa que deveria tornar-se cada vez mais comunitária.
Com esta tendência, infelizmente, mantém-se a ideia de que o processo de accountability é facultativo — principalmente se estamos a falar de políticas que muitas pessoas acreditam não terem interferência direta nos assuntos domésticos. Só há uma forma de mudar isto: reconhecer que a arte de comunicar está intrinsecamente ligada à arte de politicar.
Que ilações tiramos disto? Que a forma de consumir informação é dispersa, momentânea e instável na era da desinformação. Por isso, fica o conselho, senhores eurodeputados e senhoras eurodeputadas: se não mudarem as coisas e se não comunicarem com as pessoas, alguém vai comunicar a informação por vós, da forma que eles quiserem — e assim emerge uma das mãos que dá de comer ao populismo na Europa.
- Sobre o Gabriel Ribeiro -
Natural de Braga. Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo com uma dissertação sobre a sub-representação dos países pobres nas notícias. Com uma especialização em Geopolítica e Segurança do Mediterrâneo. Atualmente, trabalha como consultor de comunicação e assessor de imprensa para aumentar a notoriedade e influência das organizações, inspirar decision makers e aproximar as instituições das pessoas através do poder dos meios de comunicação social.