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Em busca da realização pessoal

matar o sonho é matarmo-nos. é mutilar a nossa alma.o sonho é o que temos…

Opinião de Sofia Dinis

Fotografia da cortesia de Sofia Dinis

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matar o sonho é matarmo-nos. é mutilar a nossa alma.
o sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente
e inexpugnavelmente nosso.

fernando pessoa in livro do desassossego, por bernardo soares vol. i

dou por mim a pensar no que queria ser em criança, nos meus sonhos. na altura não tinha grandes certezas, sabia que o meu percurso passaria pela arte, embora não soubesse ao certo como. de bruços, estendida ao comprido no chão da sala de estar da casa que me viu crescer, fazia as vezes de um tapete, rabiscando os contornos da minha imaginação. folhas de papel cavalinho a4, encavalitadas umas nas outras, cobriam o soalho de madeira como folhas caídas à chegada do outono. felizmente, e contrariamente ao que os adultos tendem a fazer, eu lembro-me bem.

o primeiro passo para a realização pessoal passa pelo contacto com a criança que um dia fomos. é nessa viagem pelo tempo, imersos nas nossas características mais cândidas, que surge o autoconhecimento. não é com a idade que construímos a nossa personalidade, pelo contrário, é como se nos desconstruíssemos e reinventássemos. nem sempre da melhor forma.

quando respondemos a questões tão simples como “o que mais gostava de fazer em criança?” ou “que características inatas me diferenciam?”, obtemos respostas que nos direcionam à nossa realização pessoal.

não é de surpreender que as respostas às questões anteriores nada tenham que ver com o percurso que afinal acabamos por percorrer. a sociedade força-nos a agir dessa maneira, silenciando as nossas aptidões, em vez de nos incentivar a fazer uso delas. assim se explica o sucesso de uns e o insucesso de outros; enquanto algumas pessoas são levadas a especializar-se numa área que lhes transmite felicidade e para as quais têm vocação; outras, pelos mais variados motivos, veem-se a trabalhar para (sobre)viver, exercendo funções que não as estimulam, repetitivas, contando as horas para o turno terminar e regressarem a casa. e assim passam a vida, como um comboio que nunca chega ao seu destino final.

só existe uma coisa importante em nossas vidas: viver a nossa lenda pessoal, a missão que nos foi destinada. mas sempre terminamos nos sobrecarregando de ocupações inúteis, que acabam por destruir nossos maiores sonhos.

paulo coelho in maktub

poucas são as pessoas que iniciam a semana com alegria, felizes por recomeçar uma rotina de trabalho. embora comum, esta situação reflete justamente quão errado está o sistema e nós, emaranhados nas suas teias, condescendemos.

quando se diz escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia da tua vida, é justamente isto que se pretende referir. é o suposto. quando realizamos tarefas que nos dão paz e transmitem felicidade, trabalhar deixa de ser um castigo e passa a ser um prazer, como um hobbie. no final, o sentimento de prisão, de trabalho por obrigação, a ansiedade causada pelo desperdício de tempo em tarefas irrelevantes, dissipa-se. cumprimos a nossa missão de vida, aquilo para que nascemos, o nosso sonho.

mas não é só da sociedade que advém a culpa de um talento desperdiçado. o verdadeiro desafio para a maioria das pessoas não é perceber que precisam de mudar, nem detetar as suas vocações, essa parte é fácil. somos naturalmente bons a queixar-nos e a sonhar com o que nos faria felizes. é quando devemos promover uma mudança efetiva que a ação não surge. procuramos a felicidade sem fazer qualquer esforço para conquistar uma mudança, resignamo-nos, atrasando os nossos planos indefinidamente. deste adiamento e autossabotagem, nascem sentimentos negativos como o stress, a frustração, a ansiedade e a tristeza, levando-nos a olhar o passado com arrependimento e o futuro com receio. o mais importante perde-se: o foco no agora.

o que procuras na tua vida? é algo palpável ou um ideal? é nessa resposta que encontras a tua felicidade? será esse o teu propósito?

segundo abraham maslow, psicólogo e autor da pirâmide de maslow, o ser humano é motivado com base em necessidades que se manifestam em graus de importância distintos: as necessidades iniciais ou fisiológicas e as de autorrealização, as mais elevadas. a nossa realização passa por usar talentos naturais para um bem individual e coletivo, pela aceitação e validação do nosso trabalho como uma extensão de identidade.

é durante os primeiros anos de vida que os dons são revelados. tarefas naturais e, até, simples demais para algumas crianças, mostram-se complexas para outras. é nesta fase que vamos ao encontro da nossa missão, aquilo para que fomos talhados. no meu caso, sabia que tinha nascido para desenhar, mas também eu fui adiando. do design à clínica de estética, deixei-me ocupar por tarefas que desempenhava com gosto, mas que não me realizavam. sentia que tinha mais para dar e que não era ali que faria a diferença. nenhuma representava a minha missão. 

é preciso coragem para largar o que construímos e começar de novo, mas quando a intuição fala alto, vale a pena arriscar.

sou afortunada por conseguir viver do que me faz feliz. não basta ter talento, são necessárias outras características e, algumas delas, não nascem connosco. desenhar envolve disciplina e foco, duas qualidades que não me são natas e que me obrigam a um desafio constante. é com essas dificuldades que promovo as minhas capacidades, aproximando-me de um sentimento de realização, porque me superei.

a busca da realização pessoal é uma arte demorada. grande parte das pessoas passa toda a vida à procura de um propósito, do seu propósito, sem o encontrar. alienam-se em decisões aleatórias afastando-se cada vez mais da sua identidade, subjugados a um emprego que desprezam, fazendo uso do pouco tempo livre para pôr em prática os seus talentos naturais, completamente desaproveitados.

está na altura de exerceres uma mudança na tua vida. fecha os olhos, sai do teu corpo e entra no que tinhas, em criança. o que vês? é nesse corpo infantil que se esconde a chave para a tua realização.

lembra-te: não há data-limite para se ser feliz.

com amor,
Sofia Dinis

-Sobre Sofia Dinis-

Sofia Dinis é tatuadora, fotógrafa, designer, ilustradora, criadora de conteúdos e muito mais. Sofia Dinis é artista.
Nasceu e cresceu em Albufeira, mas foi em Lisboa que floresceu. Mudou-se para a capital para tirar a licenciatura em design de comunicação, no IADE, e foi nesta cidade que construiu todos os seus projetos. Teve um espaço de estética e deu formação na área, trabalhou como fotógrafa e designer e abraçou a tatuagem como hobby.
Em 2017, viu-se obrigada a repensar o seu percurso profissional quando fechou o seu espaço de estética e design e regressou a Albufeira. No meio do caos, decidiu que queria ser tatuadora a tempo inteiro e a 15 de fevereiro de 2018 regressou a Lisboa. Dava assim o primeiro passo para se tornar a tatuadora que toda a gente conhece.
O projeto SHE IS ART nasceu em pleno coração de Lisboa, numa casa de Air BnB de uma amiga. Durante duas semanas, Sofia tatuou 2 amigos e fotografou os trabalhos de forma a parecer que tinha um extenso portfólio. Desenhou o seu Instagram, desenvolveu a marca e, duas semanas depois, começou a receber vários pedidos para tatuar, não tendo parado desde então. Em menos de um ano, tinha mais de 50 mil seguidores no Instagram e uma lista de espera de 8 meses.
A marca SHE IS ART não parou de crescer ao longo destes 3 anos. Neste momento, é muito mais do que um projeto de tatuagens, é um projeto artístico. O ano passado, Sofia lançou o seu primeiro produto, o Diário 2021. Este ano, tem já planeados novos projetos para apresentar ao público. Afinal, criar faz parte da sua essência.

Texto de Sofia Dinis
Fotografia cortesia de Sofia Dinis
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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