Uma vez por semana uma pessoa da cultura ou mesmo um colaborador do Gerador recomenda coisas para fazer em casa. Um filme, um livro, um disco, uma série, uma conta de Instagram, um espetáculo e uma das nossas reportagens que vale a pena reler. Hoje é a vez da nossa Margarida Mata.
A Margarida nunca sabe muito bem o que responder quando lhe perguntam a profissão, mas tem sempre vontade de dizer que trabalha como ponte: arte-público; artistas-instituição ou vice versa.
Estudou Escultura e Museologia. Trabalhou em vários museus como mediadora cultural, escreveu sobre exposições e museus e trabalhou como assistente da artista Joana Vasconcelos até ir parar ao teatro. Foi responsável de relações com públicos e comunidades, durante cinco anos, no Teatro O Bando, onde também começou a fazer produção e co-criou o espetáculo Paula de Papel sobre Paula Rego. Faz uma perninha na produção do FIAR- Festival de Artes de Rua.
Em 2018 fundou a FOmE uma associação que fomenta e divulga a criação artística emergente, sobretudo na Margem Sul do Tejo, através de uma edição independente trimestral, exposições, concertos e outras iniciativas. Em setembro de 2019, como não tinha nada que fazer, juntou-se ao Gerador na área da produção onde diz que é muito feliz. Tem como bandeiras e interesses a arte e comunidade, a descentralização, processos criativos participativos e os espaços informais de cultura. Tem uma gata chamada Hortaliça e uma ovelha chamada Guinha.
UM FILME
Pára-me de repente o pensamento, de Jorge Pelicano
Um documentário sobre o processo de criação de personagem do actor Miguel Borges em que o ator fez uma residência num hospital psiquiátrico a fim de construir a personagem de Ângelo de Lima, escritor e pintor vários anos internado por esquizofrenia.
É um documentário com vários temas para reflectir. O processo do actor, normalmente escondido do público que aqui tem telhados de vidro e nos permite perceber um pouco melhor um dos métodos e algumas ferramentas que podem ser usados na construção de personagem. A Vivência num centro psiquiátrico e a humanidade de uma realidade com a qual raramente temos contacto. O papel que as artes podem ter nas terapias e na vivência numa outra realidade (esquizofrenia). O Amor e os afetos na doença mental.
UM LIVRO
Lillias Fraser, de Hélia Correia
Comecei a ler este livro logo após ter lido o também brilhante conto Bastardia da mesma autora.
Hélia Correia é uma brilhante escritora portuguesa que sinto que devia ser mais amada e conhecida. Este livro é uma viagem orientada por uma personagem que vê para além do visível. Lillias Frasier vê a morte!
Deixo um enigma como incentivo à leitura: Lilias Fraser encontra uma personagem de outra obra ficcional nacional, mesmo no final do livro. Esta muito mais conhecida mas que também via para além do visível. Qual será? Uma pista: Prémio Nobel.
UM DISCO
OOOO, de Jibóa
Uma excelente banda sonora para festas, ou simplesmente para dançar na cozinha. A capa do álbum, da autoria da Margarida Borges da Desisto é linda e faz deste vinyl um objecto de culto.
UMA SÉRIE
Uma incrível série distópica que surge como uma espécie de alerta. Uma importante forma de pensar o papel da mulher na sociedade e a fragilidade dos direitos humanos.
Ainda que com um nível de calamidade aumentado quem não encontra paralelismos com realidades próximas?
UMA CONTA DE INSTAGRAM
Um espaço onde o artista vai mostrando as suas incríveis colagens tridimencionais. O João trabalha sobre a apropriação de imagens consagradas pela história e pela história da arte para falar sobre a evolução civilizacional e o excesso da realidade contemporânea. Não substitui ver as obras ao vivo!
UM ESPETÁCULO
Margem, de Victor Hugo Pontes
Tomei a liberdade de inserir mais uma gaveta nestas minhas sugestões, porque neste isolamento uma das coisas de que tenho mais saudades é de sair de casa e entrar numa sala de teatro.
Um ritual complexo que vai muito além de fruir a obra. Comprar o bilhete, esperar no foyer, dar dois dedos de conversa com os conhecidos que sempre se encontra, o espectáculo, sair da sala e discutir logo as impressões a quente e, se um dos actores for amigo, esperar na porta de artistas para dois beijinhos e um abraço apertado de parabéns.
Margem de Victor Hugo Pontes é um dos espectáculos cravados na minha memória com mais força. Uma revisitação dos Capitães da Areia de Jorge Amado, que nos leva a pensar nas margens da sociedade e na sua origem. De como há futuros que à partida não têm futuro, e que não partimos todos no mesmo lugar. Um olhar de frente e com atenção para quem geralmente é olhado de lado.
UMA REPORTAGEM DO GERADOR QUE VALE A PENA RELER
“Como damos conta do mundo? Teatro documental: uma forma de intervenção política no real”, de Andreia Monteiro
Acho que um dos meus primeiros contactos com o teatro documental foi o espetáculo I don’t belong here de Dinarte Branco, inesquecível pela realidade e crueza das histórias contadas na primeira pessoa. Apesar de ser um género de teatro incontornável pela sua consequência e pertinência, em que o teatro é ele também documento de um momento, tema ou história, não é um género muito abordado ou conhecido, por isso destaco esta reportagem do Gerador.
Voltamos para a semana com mais sugestões fresquinhas!