Lisboa, 3 de maio de 2020
Exclusivo: Vários países anunciam o desconfinamento suave e progressivo das ideias, já a partir de hoje
Segundo fonte das Nações Unidas que prefere o anonimato, um conjunto muito significativo de países vai começar a deixar as ideias fluírem, embora ainda de forma muito lenta, a partir de 3 de maio.
Esta notícia em exclusivo representa uma mudança significativa no comportamento dos governos e das organizações desde que foram anunciadas as limitações na criação de ideias.
Recorde-se que, apesar de não existir uma sustentação científica que o comprove, várias nações por todo o mundo responsabilizaram as ideias como principal transmissor do vírus, optando por restringir a sua actividade, com a implementação de duríssimas medidas de restrição.
Durante mais de 2 meses as ideias estiveram proibidas de sair para a rua e de circular em liberdade, gerando uma total incapacidade das pessoas e das instituições de se ajustarem a novos desafios, como estes que a sociedade enfrenta neste momento.
As consequências deste confinamento fazem-se sentir a vários níveis e em diferentes áreas da sociedade, com enormes implicações em dimensões que dependem praticamente em exclusividade do fornecimento de ideias, como a cultura.
Neste sector tem-se assistido a uma total ausência de ideias por parte das entidades estatais e empresariais, sempre suportado no receio, até agora infundado, de que elas são o veículo do contágio.
Em vez de convocarem artistas, promotores, agências e outras organizações que desenvolvem ideias todos os dias para trazerem novas soluções, a dimensão pública e privada tem recorrido às mesmas respostas clássicas de sempre, esperando que estas possam resolver os problemas extraordinários de agora.
Num dos períodos da história em que as ideias poderiam ter maior valor, decisores políticos e empresariais não têm recorrido à criatividade e preferem ser conservadores na forma como enfrentam estas contrariedades, aguardando, apenas, pelo fim da pandemia.
Esta situação tem provocado inúmeras dificuldades na economia das ideias, desde dos criadores, passando pelos distribuidores e fornecedores, até aos produtores. Fala-se, inclusive, que os intocáveis consultores também estarão a atravessar provações.
Falámos com algumas pessoas ligadas à criação e produção de ideias que nos revelaram a situação calamitosa em que se encontram. José, criador de ideias há mais de 20 anos, diz-nos que “obviamente continuamos a gerar ideias todos os dias, algumas delas completamente originais e bastante acutilantes em relação às adversidades que vivemos, mas não temos como as escoar.” Maria, responsável pela produção de dezenas de ideias, afirma que “temos um conjunto de pessoas preparadas para pôr as ideias em prática rapidamente, com todos os recursos técnicos necessários, mas este confinamento tem-nos obrigado a optar pelo lay off total ou parcial dos nossos trabalhadores.”
O anúncio de hoje, que implica o desconfinamento gradual das ideias, surge como resposta à intensificação da pressão por parte de autores e instituições criativas um pouco por todo o planeta.
Na Europa, várias personalidades têm-se manifestado pela retoma da criação de ideias através de um movimento composto por artistas e pensadores e, nos Estados Unidos, começaram a surgir ideias ilegalmente afixadas nas paredes das cidades, no que parece ser o início de uma mobilização de resistência.
Em Portugal, milhares de pessoas decidiram juntar-se num manifesto que luta pela liberdade total das ideias, num documento que já corre pelas redes sociais e que será entregue aos órgãos de soberania no final desta semana.
Se desejar fazer parte deste manifesto, basta partilhar as suas opiniões usando o hashtag #soltemasideas.
*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
-Sobre Tiago Sigorelho-
Tiago Sigorelho é um inventor de ideias. Começou a trabalhar aos 22 anos na Telecel e, pouco depois da mudança de marca para Vodafone, resolveu ir fazer estragos iguais para a PT, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca. Hoje é o Presidente da Direção do Gerador, a plataforma que leva a cultura portuguesa a todos.