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De volta ao campo

Nas Gargantas Soltas de hoje, Laura Bastos reflete sobre a mudança para uma vida mais sustentável.

Opinião de Laura Bastos | Zero

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Escolher viver de forma mais sustentável foi, para mim, iniciar um processo de mudança de hábitos que, paulatina e pacientemente, me transformou. Nunca me passou pela cabeça que passar a usar sacos de pano no supermercado ou a beber água de garrafas de aço inoxidável se traduzisse, anos depois, no deixar a cidade, ir viver para uma terra pequena e comprar uma casa com terreno. E ainda mais surpreendente, dei por mim entusiasmada com a ideia de ter uma horta.

Ao tentar recordar os meus passos até aqui, consigo ver o fio condutor. Comecei por escolher os sítios onde era mais fácil comprar os legumes e fruta sem estar a dar mais trabalho ao trabalhador na caixa do supermercado, ou seja, o mercado, onde não eram precisas etiquetas para assinalar o peso dos produtos. Daí até ter uma maior perceção da sazonalidade dos produtos foi um instante. E até calhava bem porque é outro fator importante para a sustentabilidade ambiental. Comprar apenas frutos e legumes de época ajuda na redução dos gases com efeito de estufa, uma vez que se reduz a energia dispensada no transporte de longo curso e na refrigeração dos produtos. Além disso, os produtos sazonais são normalmente mais frescos, porque não sofreram viagens longas, e com um prazo de validade mais longo, o que resulta em menos desperdício. E assim estava desperta a minha curiosidade para os produtos de cada época, o porquê de aparecerem em determinadas épocas do ano, e a alegria de ter percebido que com os morangos vem a ligeira indicação do fim do inverno.

Ao mesmo tempo, e neste caminho para uma vida mais sustentável, vieram os dilemas associados aos produtos biológicos. Sinto-me, na verdade, perdida. Ir ao mercado não significa que os produtos sejam biológicos, ou seja, há o custo para o ambiente do uso excessivo de pesticidas que podem ter sido utilizados no cultivo dos legumes e frutas, já para nem falar do impacto na nossa saúde. Depois há o produto “bio” no supermercado que vem embalado em plástico e nem sabemos em que condições foi produzido, pois pode estar ligado a uma exploração pouco sustentável. Os organismos de controlo do modo de produção biológico não avaliam a totalidade do impacto ambiental do cultivo, que pode ter sido feito às custas da destruição de habitats protegidos. A solução ideal, então, é cultivarmos o que consumimos ou, perante essa impossibilidade, conhecer bem os produtores locais e as suas práticas, optando pelos chamados ‘circuitos curtos’.

A par disto, o meu objetivo de desperdício zero levou-me à compostagem. Como mais um hábito a mudar, os primeiros passos não são fáceis. Há vários métodos e várias formas de fazer compostagem num apartamento numa cidade grande, como eu estava na altura em que comecei a recolher os restos alimentares e todo o material que podia servir de biorresíduo. Atualmente, desde o início de 2024, em Portugal os municípios são obrigados a ter uma rede de recolha dedicada aos biorresíduos. Talvez seja necessário um pouco de paciência para não desistir de participar nesta recolha, pois nem sempre o método escolhido pelo município é o mais acessível, mas é compensador. Estima-se que cerca de 40 por cento dos resíduos em Portugal podem ser compostados. A compostagem doméstica e a comunitária ajudam não só a reduzir o lixo que fazemos, como ainda possibilitam a substituição do uso de adubos e fertilizantes no solo, evitando também a colocação dos resíduos em aterros ou a sua incineração. E assim, a par da horta, comecei a sonhar com um terreno onde possa ter o meu compostor e usar na minha terra.

E aqui me encontro, prestes a plantar sementes. Não sei se este é o caminho de todos os que escolhem uma vida mais sustentável, é pelo menos o meu. Também não sei onde mais me levará, mas talvez seja a um sítio mais tranquilo, porque se é verdade que mudar hábitos é difícil, também é verdade que não viver de acordo com os nossos valores nos contamina.

-Sobre Laura Bastos-

Laura Bastos é licenciada em Jornalismo e doutorada em Relações Internacionais pela Universidade de Coimbra. Colabora como voluntária com a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável desde Setembro de 2022.

Texto de Laura Bastos | Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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