Sabemos, há muitos anos, que a dependência em relação à tecnologia está em crescendo por todo o lado e em quase todas as idades. Desde as histórias, verdadeiras ou não, de “vender um rim para comprar o novo iPhone” ou da adoração por tudo o que tenha um ecrã, colorido e a preto e branco (no caso dos leitores e-reader que são uma tendência com forte crescimento), é comum, não escolhe sexo, credo ou posição social.
Somos atraídos pelo magnetismo do ritmo da informação, da facilidade (mais para uns que para outros) na utilização, da conexão com o mundo e do imenso fluxo de trabalho que, num repente, nos é pedido e, atenção, apresentado. E quem diz trabalho também diz lazer.
E é aqui, no meio de toda esta espiral de informação, dependência e utilização, que entra o tecnostress. Escrevo sobre este assunto porque li num comunicado que a Adecco enviou para os media e outras organizações, algumas considerações sobre o assunto: como evitá-lo, lidar com ele e prevenir as muitas maleitas que lhe são e estão associadas.
São oito pontos bem definidos, os já tradicionais, em que nos pedem para criar defesas em forma de pausas temporais definidas, encurtar o tempo que gastamos nas redes sociais, até mesmo desligar os equipamentos várias vezes ao dia e à noite, redução ao que é imprescindível, optar pela forma tradicional de apontar em papel o que nos vai pela alma, foco numa tarefa de cada vez e, para os patrões, duas medidas extra: formação sobre utilização das novas tecnologias e encorajamento para desligar (o tal assunto que está a ser muito badalado) os aparelhos fora do tempo de trabalho.
A Adecco sabe do que fala, com certeza, mas estas noções também podem provocar outro tipo de dinâmicas negativas com respostas menos eficazes à já badalada tecno-ansiedade ou adição e, para algumas pessoas, é apenas impossível passar o dia a dia sem acesso às mesmas, o que é dramático.
O que se pretende é o equilíbrio, pois enquanto uns optam por se desligar das redes sociais, continuam dependentes do digital para as suas ocupações, pois neste momento, é muito difícil encontrar nas novas profissões, uma que nada tenha de tecnologia.
Daí o tema que levámos ao Festival Mental durante 2021, a Eco-Ansiedade, que neste momento começa final e felizmente a ser discussão dentro do circuito da Saúde Mental e que demonstra bem a dificuldade que os mais novos estão a conhecer ao tentar esse tal equilíbrio quando tudo ao seu redor tem luz, cor, conteúdo e acção.
Como travar este tecnostress que nos leva diariamente ao limite? Serão os oito passos assinalados os ideais ou suficientes?
Está na altura de perceber a tecnologia como parte integrante do dia a dia e da nossa própria existência e, dessa forma, começar a desenhar uma disciplina para ensinar na escola na mais tenra idade.
E só aí, com formatação e educação, poderemos começar a resolver este problema que se torna mais premente a cada minuto que passa.
*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
-Sobre Ana Pinto Coelho-
É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora. Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.